sexta-feira, 17 de julho de 2020

criança e eu

A sensação é de um mar a navegar.... só que quanto mais avanço, mais longe fica o horizonte. Eu subi 8 andares, mas faltaram dois. Porquê? É cansaço ou preguiça, não assumir a responsabilidade que é do adulto. Delegar a escolha para a criança, não acredito, não percebi isso? Ou pode ser uma avalanche, tantas demandas, nesse mar é preciso priorizar, organizar. "Eu só quero cuidar do meu filho", ela me disse. Na hora eu não entendi, mas depois fez tanto sentido: taí a força que eu não tenho mais. Eu queria que alguém fizesse por mim. Outro dia eu disse para ela assumir suas responsbilidades porque ai residia a alegria da vida adulta, fazer por si, sem esperar de ninguém, nada. Mas a minha fala era para mim, como sempre. Espelho. E a minha responsabilidade, meu "walk your talk" - para onde foi? A pessoa mais consciente deve se responsabilizar, assumir a linha de frente. É cansativo, mas alguém tem que fazer. São desabafos, vontade de chorar ao perceber a complexidade do simples. É simples e alguém tem que fazer. Esse alguém sou eu.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Crônica de um dia sem fim ou sobre como chamar a força

O dia passa arrastado. Mais uma notícia triste. Cinco em uma semana. As águas encharcam a face. De novo. É medo. Que desenho é esse que nunca sonhei?
A reunião é interrompida três vezes. Ela pergunta se preciso de mais tempo. Gritaria, telefone cai. o afeto dela me emociona. Ela me lembra que sou mãe e é normal que eu esteja cercada por muito e também isso. Eu respiro. Explico, talvez para eu mesma ouvir, que não adianta mais parar, as notícias não sumirão. Eu quero trabalhar. Eu preciso sentir a vida pulsando e eu amo meu trabalho. Levar um conforto a alguém, ser um canal para isso materializar. Apesar da dor, apesar do medo, a vida é um fluxo.
O céu estrelado está ali para lembrar.
Quando eu era estrelinha mãe e estrelinha vou, um dia, virar, mas não sem antes beber a vida até a sua última gota.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

lobas

Recebi e compartilho aqui. Para não se afogar, para se manter selvagem, instintiva.

"Houve um tempo em que fugia do medo, então o medo me controlava.
Até que aprendi a segurar o medo como um recém-nascido.
ouví-lo, mas não ceder. Honrá-lo, mas não o adorar.
O medo não podia mais me impedir.

Eu entrei com coragem na tempestade.
Ainda tenho medo,
mas ele não me tem.

Houve um tempo em que
eu tinha vergonha de quem eu era.
Eu convidei a vergonha para o meu coração.
Eu a deixei queimar.
Ela me disse: “Estou apenas tentando proteger sua vulnerabilidade “.
Eu agradeci à vergonha,
e entrei na vida de qualquer maneira,
sem vergonha, com a vergonha como minha amante.

Houve um tempo em que tive muita tristeza enterrada bem no fundo.
Eu a convidei para sair e brincar. Eu chorei oceanos.
Os meus canais lacrimais estavam secos.
E eu encontrei a alegria ali mesmo.
Bem no centro da minha tristeza.
Foi o desgosto que me ensinou a amar.

Houve um tempo em que tinha ansiedade.
Uma mente que não parava.
Pensamentos que não silenciavam.
Então parei de tentar silenciá-los.
E eu larguei da mente
fui para a terra, para a lama.
Onde fui abraçado fortemente como uma árvore, inabalável, segura.

Houve um tempo em que a raiva queimou nas profundezas.
Eu chamei a raiva para a luz de mim mesmo.
Eu senti seu poder chocante.
Eu deixei meu coração bater e meu sangue ferver.
Escutei, finalmente.
E ela gritou: “Respeite-se ferozmente agora!”.
"Fale a sua verdade com paixão!”
“Diga não quando você quer dizer não!”
“Ande o seu caminho com coragem!”
“Que ninguém fale por você!”
A raiva se tornou uma amiga sincera.
Um guia sincero
Uma linda criança selvagem.

Houve um tempo em que a solidão cortou profundamente.
Eu tentei me distrair e me entorpecer.
Corri para pessoas, lugares e coisas.
Até fingi que estava “feliz”. Mas logo eu não pude correr mais.
E eu caí no coração da solidão.
E eu morri e renasci
em uma requintada solitude e quietude.
Isso me conectou a todas as coisas.
Então eu não estava em solidão, mas sozinho com toda a vida.
Meu coração Um com todos os outros corações.

Houve um tempo em que fugia de sentimentos difíceis.
Agora, eles são meus conselheiros, confidentes, amigos,
e todos eles têm um lar em mim e todos eles pertencem e têm dignidade.
Eu sou sensível, suave, frágil, meus braços envolveram todos os meus filhos internos.
E na minha sensibilidade, poder.
Na minha fragilidade, uma presença inabalável.

Nas profundezas das minhas feridas
No que eu tinha chamado de “escuridão”,
Eu encontrei uma luz ardente. Isso me guia agora em batalha."

(Jeff Foster)

terça-feira, 21 de abril de 2020

ressaca

Acordo com ressaca. Todo dia. E não é pelo isolamento, apesar de eu amar pessoas, sinto ser minha obrigação não me contaminar, não colocar pessoas em risco - porque seria CRIME. É assistir a essas sociopatias que deixa tudo girar.

Não existe opção, tampouco opinião a ser considerada, sobre algo manisfestamente ilegal. Mas o Estado de Direito aqui nunca existiu, sempre dividido, para poucos. E alguns não se importam.

Que país é esse que aproveita a quarentena para desmatar a amazônia, dezimar população pobre, preta e indígena para incitar ódio, para vender o Brasil e aumentar lucro de poucos, para por botox, para abrir salão de beleza, para fazer plástica?

Continuando a minha proposta sigo querendo te ver além da sua violência. Eu me vejo em você: eu também tenho medo, eu também quero viver, eu também sou violenta.

Apenas notas mentais, não tenho respostas, mas sinto que notas de repúdio não adiantam enquanto o barco afunda. Respeitar o cargo máximo quando vidas estão em risco?

Precisamos de ação antes que seja tarde, se já não é. Os corpos se amontoam para serem enterrados, você não vê? É difícil levantar um país com mentalidade escravocrata, machista, homofóbica, violenta, mas não é impossível.

Não há diálogo possível na violência. Não há compreensão possível. Não se trata de opinião. Apenas sinta a morte do seu lado, caminhe com ela, converse com ela. Não olhe números, pense "e se o morto for eu?" e perceba se sua escolha muda.

domingo, 6 de maio de 2018

nuvem de lágrimas

Costurei até alcançar o fio condutor daquele sentimento. Lembrei lendo que não escrevo mais e isso me sufoca. Chorei até entender que não quero o fim, mas um recomeço. Abracei com medo de perder e também por entender que talvez eu tenha que deixar ir. Curamos juntos nossos medos com a palavra. Entendi que amar é libertar. Tive medo do meu impulso destrutivo pela primeira vez. Eu sei recomeçar, mas meu profundo quer ajuda para atravessar e seguir construindo. Quanto o amor verdadeiro não pode alcançar?

segunda-feira, 8 de maio de 2017

contar a nossa história

A pediatra da Elena me pediu para escrever um relato sobre minha participação no grupo de pós-parto... Sentei e com minhas entranhas fiz. Tenho muito mais a contar, espero aos poucos conseguir. Tia Malu chamava a Vó Luiza de Sherazade, minha mãe sempre nos contou histórias e nos incentiva a escrever. E é assim que quero honrar o dia das mães esse ano, escrevendo, esse exercício de liberdade! Compartilho aqui:


Meu nome é Adriana e sou mãe da Elena que hoje tem 1 ano e 7 meses. Nós somos de São Paulo e, entre idas e vindas, fincamos pé em Curitiba em Janeiro de 2016 quando Elena tinha acabado de completar 4 meses. Estávamos desde outubro tentando nos estabelecer por aqui, mas foi um começo de maternidade muito turbulento.
Elena não ganhava peso e nem crescia como o "esperado" - sua curva sempre estava bem abaixo do "normal". Com 2 meses ela passou por um episódio de desnutrição, o que nos levou a passar por muitos médicos e hipóteses diagnósticas. Assim, a certeza inicial de que eu tinha leite e poderia alimentar minha filha foi sendo pouco a pouco destruída, bem como minha confiança interna. Mas sou teimosa e queria amamentar! Eu simplesmente não me conformava e odiava dar o complemento!
Em dezembro/2015, em São Paulo, conheci uma parteira que acertou a pega da Elena e, pela primeira vez, fizemos aquele "click", olho no olho, pronto! Eu senti que poderíamos amamentar em paz. Chegando aqui comecei a buscar uma roda, um apoio, para não perder essa conquista, pois em São Paulo eu tinha toda uma rede e aqui eu não tinha ninguém além do meu marido, Rodrigo e de uma amiga Camille, solteira. Em fevereiro/2016 a Camille me apresentou uma mãe que ela conhecera num evento x e nos colocou em contato via facebook. Ela que me falou da Casa Mãe. Uma bela tarde criei coragem e fui até a Casa Mãe, mas não estava acontecendo nenhuma atividade. Mesmo assim a Niti me recebeu, me acolheu e me falou do grupo de pós parto e da Dra Lu.
Minha vida mudou, um novo horizonte se abriu para mim e me senti acolhida nesta cidade. Minha primeira atitude foi mudar de pediatra e com o incentivo da Dra Lu passei a ir às reuniões. Com as reuniões me fortaleci, eu chorava muito e nunca me senti julgada, fui entendendo que minha filha tinha um biotipo diferente do "normal" e que poderíamos desfrutar da amamentação exclusiva - isso ocorreu quando Elena tinha 6 meses. Dra Lu me ajudou muito nesse processo, pois me incentivava a estar com outras mães e a ver Elena como ela era, saudável e com uma particularidade: um bebê que queria mamar em paz antes de começar a comer. Foi uma liberdade tremenda me livrar das cobranças e poder desfrutar da amamentação sem as neuras da "balança" e da introdução alimentar.
Anexei essa foto na qual Elena tem 7 meses, há 1 ano. Ali está ela: feliz por estar interagindo com outro bebê. Ali estou eu: aliviada por ouvir outra mãe com uma história igual a minha. Hoje consigo entender a importância desse período e de estar em grupo, sinto falta até hoje desses encontros, pois ali a energia circulava como um respiro para enfrentar mais uma semana. Eu me sentia sobrevivendo, culpada por não estar "feliz" e no grupo entendi que "tudo bem" - afinal eu estava passando por muito e estava dando o meu melhor, apesar dos desafios e dificuldades. Até hoje Dra Lu acompanha Elena e de quebra me beneficio do seu olhar e, mais recentemente, comecei a terapia individual com a Fernanda. Considero-as parceiras incríveis, sensíveis, olham mãe e filha como uma relação que deve estar equilibrada, sem fantasias sobre uma maternidade ideal, mas buscando a construção de uma maternidade real e possível.
Attachmen

sábado, 7 de janeiro de 2017

sonhe alto, não pare de sonhar

Hoje à noite ganhei um sonho, enorme, perfeito, delicioso. "Eles estão mandando muito bem", sorri e pensei. Sempre lembro do Salim, meu avô, e ela sabe. Pensei em guardar um pedaço para tomar com café amanhã, mas me permiti devorá-lo como se eu tivesse 12 anos, quando seu Salim nos levava na Monte Rei para comer um escondido, antes do almoço. Baita travessura. Nem me lembro quando me permiti a última travessura, tudo agora é responsabilidade e culpa. Elena não me cobra, mas parece que é o que sobra da maternidade. Há poucos dias, num movimento reverso, me conecto com ela, fico olhando, reparando nela, sem me preocupar com as mil tarefas que envolvem o cuidar, apenas apreciando aquele ser que amo mais do que a mim mesma. Olhei pela janela e respirei profundo, entre uma mordida e outra, que bom estar aqui, que bom estar vivendo esse momento que em breve não será. Eu gosto do cafofo e de poder respirar a brisa do mar. Eu me permiti essas linhas antes do banho, ai que momento de inspiração, alegria. Abri logo o computador para capturá-lo, como se esse ato pudesse me proteger de ficar à deriva, longe de casa. Relembramos uma frase dita por mim: custa caro bancar nossos sonhos. Re-conheci aquela frase como se eu a tivesse dito para mim. Tem sido caro bancar minhas escolhas longe de todo conforto e segurança conhecidos. Mas a janela estava ali, me apresentando também a liberdade enorme trazida por todo esse movimento, toda essa convivência, toda essa aventura. Engraçado como o fora nos leva para dentro se quisermos. Ela me disse para eu escrever sobre tudo isso, mas seria uma comédia ou uma tragédia? Eu gostaria que fosse comédia. Está ficando muito longo e eu só quero voltar a acreditar que posso sonhar alto e não parar de sonhar.