segunda-feira, 5 de julho de 2010

chorar

Engolir o orgulho para, então, poder colocar para fora aquilo que deseja sair.
Basta sentir o incômodo para a minha cabeça começar a funcionar:
Vergonha por aquilo estar ali, vergonha por admitir que aquilo precisa sair. E o orgulho? O orgulho quer assumir que estou bem, quando o que mais se quer é chorar de raiva. Chorar, chorar.

Que mecanismo estranho é esse de querer abafar tudo dentro do peito, fingir que não vejo o que ali está... tanto esforço para quê? Não conheço alguém que saiba me responder isso. A questão é que eu faço isso, talvez por medo do que vai sair, medo porque é o incontrolável, o invisível.

Deixar sair todo esse choro, porém, foi um alívio... Sai o choro e todos saem vivos. Raiva represada, é como bomba-relógio. Quem a "segura" tem medo, porque não sabe a hora que vai explodir. Eu sempre soube disso e justamente por isso sempre tive medo dessa raiva, e nunca quis acolhê-la. Agora eu realmente sei que o que ela quer é sair.

Para ela sair precisei deixar chegar a coragem, hoje conheci sua outra face, a face que é uma sábia senhora que fica a espreita, espera o tempo que for necessário para se manifestar, não tem pressa. E com o tempo ela dribla o orgulho e ressoa suave aos ouvidos: mas se você não ceder, como é que vai ser para dormir? vai dormir tranquila? Tem certeza que quer fazer isso com você?

E então, numa atitude de carinho e amor, escolher deixar sair todo esse choro entalado, esse grito contido e esse medo de não ser, pura ficção, pois o que é mais óbvio é que se é. Que esforço se faz para não ser! Aceitar toda essa dinâmica que é estar vivo requer muita humildade para escutar os sons que a vida nos dispõe, eles estão dentro do nosso próprio corpo, bem vivos. Basta aprender a escutá-los e se permitir o transbordar da vida.