domingo, 25 de dezembro de 2011

poema de natal

chegou com seus grandes olhos
cor de jabuticaba
fala mansa ganhou espaço
adora um incêndio, um fósforo e uma traquinagem
em casa e nos corações
por onde passa leva graça
coloco o O no lugar do L porque acho engraçado
lá na Itália a mama se inspirou
vai ver foi por isso
que o palestra no coração dele ficou.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

é fácil explicar

"have I ever told you?
how good it feels to hold you?
it is easy to explain....."

no auge dos seus oitenta e tralalá meu tio me deixou um presente de natal. eu liguei para agradecer e desejar boas festas. sempre doce e brincalhão, ele me disse: minha lindinha, que você encontre um fidanzato ano que vem. é namorado bella, namorado em italiano.

claro, tio, claro.
simples? me pareceu tão fácil.

I don't want the world, I only want what I deserve

o verão chegou e eu realmente me encontro aqui. parece que fiquei uns quatro dias para entender que o verão havia chegado, quatro dias para mudar de estação. mudou de estação, primavera-verão, am-fm?, eu fora-eu dentro-eu fora-eu dentro de mim, eu ali-eu aqui. sinto-me como uma jibóia digerindo o mundo, digerindo o mundo lentamente digerindo. comparações com a mesma época, em 2010, não faltam hoje na minha cabeça. muita coisa mudou, muita. eu resolvo sentar e escrever para conseguir trabalhar. escrever sobre gratidão. trabalhar está bonito também, cada dia uma ideia, devagar, mas indo. está tudo indo, o ano acabando e eu só gratidão, nem uma paixão na qual eu pudesse me perder, por ninguém, não, são muitas outras coisas, são muitas outras alegrias, colaborações vindas de tantas múltiplas formas. ficam abraços, amigos, amigas, amor e carinho. eu espero muitas realizações e conclusões em 2012, aventuras, encontros, desencontros, recomeços. eu espero aceitar ainda mais os ciclos da vida, nessa natureza fluida, líquida. eu espero bons ventos de completude desta vida incrível que gira ao meu entorno, como a linda renata me desejou e eu aceitei. espero deixar ir quem tiver que sair da minha vida, como helena compartilhou.
eu celebro você verão, que esse ano tem cheiro e brisa da bahia.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Você não passa de uma mulher (ah, mulher)

I
Minha avó, neta de italianos e franceses, filha de italianos, foi chapeleira. Ela ama costurar e tenho minhas dúvidas se ela não acabou casando porque era isso que as mulheres faziam. Muito bela e vistosa, sempre foi muito cortejada pelos rapazes, mas acabou casando-se com o meu avó, o rapaz pobre que foi, voluntariamente, para a II Guerra Mundial. Ela escolheu o amor, abdicou da sua vida em nome da casa, dos filhos e do marido. Ficou viúva com 81 anos. Um dia a madame francesa, sua patroa, conversando com uma amiga disse: "o homem dá o sobrenome, o amigo o amor", ela ouviu, mas achou um absurdo.
Hoje ela paquerou um médico no elevador. Eu disse, "paquerando, vó?". E ela: "claro, porque não?". Pela primeira vez eu reparei que ela sempre me chama de Adriana e é tão doce que não me assusta. Eu insisti para ela um assunto e ela me disse, firme, na lucidez dos seus 87 anos: "Adriana, eu vou ficar". Emudeci pensando, caramba - c a r a m b a - "é muita personalidade". Encheu o olhos azuis piscina de mais água, o rosto corou, quando a tia entrou no quarto. Respirou aliviada, mais uma etapa. Voltando para casa me contou uma porção de suas histórias, enquanto reparava nas ruas enfeitadas para o Natal. Mostrei a árvore e gostei da felicidade que ela causou na minha Noninha. Logo eu, que acho pouco criativo tanto esse Natal europeizado quanto a árvore. Vem almoçar domingo que a vó faz bife à milanesa. Sobe hoje e toma um café com a vó? Estou cansada, vó. Você vai sair ainda hoje? Vou sim, Luizinha. Então vai, toma uma banho, descansa e vai.

II
Minha outra avó, não se sabe ao certo, era um mix de português com índio com italiano. A sua mãe não pode criar os filhos, então os distribuiu para famílias próximas, para que eles não perdessem o contato. Minha avó gostava muito da família que a adotou. Rita ficou viúva cedo, com 52, e faleceu com 79, sem me dar tempo de perguntar tantos detalhes, os quais apenas me dei conta que faltavam quando ela não estava mais por perto. História que deixou suas lacunas, como a vida, pois não se pode entender tudo. Era uma mulher livre e cheia de energia, adorava o amor e o sexo e não tinha nenhum pudor. Falava sobre isso com a maior naturalidade do mundo. Adorava sua cervejinha com salaminho, apesar da pressão alta. Sempre foi cortejada e namorou até seus últimos dias escondido dos filhos, filhas, netos e netas, claro, pois todo esse pessoal dando opinião sobre sua vida é, definitivamente, a última coisa que ela queria. Trabalhou de telefonista na mocidade e adorava ir aos bailes. De todos os pretendentes casou-se com meu avó que levou-a para morar na fazenda, abdicando de sua profissão para viver uma vida à serviço: 12 filhos (5 filhas, 4 filhos, 3 morreram), cozinhar para um batalhão, fazer partos nas redondezas (sim, ela ainda era parteira)... Uma vida muito diferente da vida na cidade.

III
2011. Almoçando, comecei a conversar com a Maria e o que ela me contou da sua vida me remeteu para o ano de 1880, entretanto, curiosamente, ela relatava 30 anos atrás, no Piauí. Ser mulher, então, é uma tarefa. Não sei se árdua, mas uma tarefa. Não se pode ousar ficar parada, estagnada. Carregamos conosco a tarefa de abrir caminhos para as próximas gerações, romper conceitos, girar entre dar a cara à tapa-encolher-expandir-dar a cara à tapa-encolher-expandir, escolher e sofrer, escolher e ser recompensada, muitas vezes aceitar. Aceitar e não fazer nada, também uma outra tarefa. Eu ouço as histórias, minhas avós, Marias e penso na mulher que eu sou e qual eu posso ser. Eu lhe entendo, menina, buscando o carinho de um modo qualquer... Carinho queremos e, muitas vezes, o aceitamos de um modo qualquer, mas qual é o modo não-qualquer? Eu experimento e observo, aprendo. Olha a moça inteligente, que tem no batente o trabalho mental, QI elevado e pós-graduada, psicanalizada, intelectual. Vive à procura de um mito, pois não se adapta a um tipo qualquer e apesar do estudo, ela não passa de uma mulher..... ah, mulher.

sábado, 5 de novembro de 2011

e eu que era toda inteira metade

A primavera chegou, mas aqui dentro está rolando um processo de fechamento. confusão, quero entender. Será que o que eu desejo vai florir por ai? Um monte de quereres e se, todo esse tempo, ao invés de diminuir, o meu ego aumentou? não sei mais como agir. atenção. ação e não atividade. a t e n ç ã o. ação e não atividade. ação e não atividade. eu me entreguei à atividade e disparei no descontrole? perdi a atenção? minha vida não é mais minha, mas é de quem? eu gostaria de conhecer quem está no controle. "ha ha" - quer mais controle do que isso?
r e s p i r o
eu sou responsável por tudo aquilo que acontece comigo. como? respiro e relaxo. respiro e relaxo. fecho os olhos e penso em me segurar ali mesmo, naquele ponto. não vejo nada porque não vou imaginar um ponto de luz, mas eu me sinto. eu me sinto e sorrio. ah, então está tudo bem? ali dentro está. vou aprendendo com a prática, num círculo de achados e encontros e partidas e.... e tem você, e você e todo mundo ali e aqui. as flores eu comecei a enxergar, elas já estão florindo o meu jardim. responsabilidade que aceito com alegria.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

para nena e fábio, com amor. muito amor.

29.10.2011

Ouvi dizer:

Coloca o coração naquilo que importa, porque o que é do coração fica. Então, eu vou falar em nome de encontros e das relações que têm muito coração, que importam.

A semelhança física me trouxe uma irmã quando eu menos esperava. Eu estava no segundo colegial e uns amigos em comum diziam que a gente se parecia, mas nós não nos conhecíamos e não queríamos saber desse papo. Um belo dia, porém, o destino quis diferente e fez a gente se cruzar descendo a escada do nosso colégio marista. O tempo, então, começou a me mostrar que era uma amizade para regar.

Eu posso dizer que aprendi muitas coisas com a Nena, principalmente sobre receptividade. Essa palavra me veio claramente quando eu tive a honra de ser convidada para falar nesse momento tão especial de celebração da vida e do amor.

Receptividade é a qualidade de não colocar barreiras para o encontro, não pré-julgar, aceitar, saber receber e sabiamente dar. Ficar disponível ao amor. O amor reconhece isso e vem correndo ao encontro, floresce o jardim, deixando-o em festa, como na primavera.

A receptividade supõe essa abertura, supõe a abertura para o amor entrar como um raio de sol, esquentando e iluminando, esquentando e iluminando. Ele entra e sai na mesma proporção.

Ser receptivo significa se entregar ao outro sem reserva e se engajar na relação sem buscar recompensa ou compensação. É também deixar livre, porque amar jamais aprisiona ou subjuga-controla ou manipula. E é essa qualidade de receptividade que faz todos nós sempre querer estar por perto.

Conhecendo um pouco mais da minha irmã fui conhecendo sua família que não mediu esforços para me receber. Porque essa é a qualidade de todos eles, com todos que os cercam: reunir, compartilhar, celebrar, de peito aberto e disponível. Dão e recebem amor na mesma medida. Sempre com um gigante sorriso no rosto e um abraço apertado que a gente não quer soltar.

Foi então que, quando conheci o Fábio, não tive surpresa nem dúvida, vi que ele tinha vindo para entrar nesse nosso mundo onde reina o coração. Fábio, o cara também de sorriso largo e peito aberto. Tão querido e tão amado quanto a Nena.

E nesse dia de hoje, um dia de oração e celebração, flecharam a luz da emoção nesse altar cheio de luz. E que essas flechas saiam em fila atingindo com muito amor o coração desse casal que sabe receber e merece receber todas as bençãos dessa vida. Amo vocês.

sábado, 8 de outubro de 2011

pelas ruas que andei

manhã, sol forte, a prática é o critério da verdade

as experiências tentam mostrar um numseioque não tenho conseguido entender

estou tentando

nasce a noite, vai-se a vida rebolando pr’outra parte
nem vale a pena pensar sem malícia e agilidade
tudo pode acontecer? não, tudo irá.

quando? tenho pressa, ainda. mesmo com tudo ao meu redor pedindo calma.

olhos abertos, mãos ávidas agarram-se ao mundo:
o amor e seus cabelos, as ilusões, o coração aprisionado.

o coração aprisionado.... um homem bicho do mato.
o medo existe para ser vencido, disse Pedro Lage. mas eu não sei mais se é medo ou se é escolha.


ensinar? sim... mas, quando? o palhaço descobriu na ausência a sua vocação. E eu, tento acreditar, mas eu queria conseguir, que mais cedo ou mais tarde, nem tudo vai dar errado.

sábado, 1 de outubro de 2011

Balada do Amor Perfeito

Paulo Mendes Campos

Pelo pés das goiabeiras,
pelo braços das mangueiras,
pelas ervas fratricidas,
pelas pimentas ardidas,
fui me aflorando.

Pelos girassóis que comem
giestas de sol e somem,
por marias-sem-vergonha,
dos entretons de quem sonha
fui te aspirando.

Por surpresas balsaminas,
entre as ferrugens de Minas,
por tantas voltas lunárias,
tantas manhãs cineárias,
fui te esperando.

Por miosótis lacustres,
por teus cântaros ilustres,
pelos súbitos espantos
de teus olhos agapantos,
fui te encontrando.

Pelas estampas arcanas
do amor das flores humanas,
pelas legendas candentes
que trazemos nas sementes,
fui te avivando.

Me evadindo das molduras,
de minhas albas escuras,
pelas tuas sensitivas,
açucenas, sempre-vivas,
fui te virando.

Pela rosa e o resedá,
pelo trevo que não há,
pela torta linha reta
da cravina do poeta,
fui te levando.

Pelas frestas das lianas
de tuas crespas pestanas,
pela trança rebelada
sobre o paredão do nada,
fui te enredando.

Pelas braçadas de malvas,
pelas assembléias alvas
de teus dentes comovidos
pelo caule dos gemidos
fui te enflorando.

Pelas fímbrias de teu húmus,
pelos reclames dos sumos,
sobre as umbelas pequenas
de tuas tensas verbenas,
fui me plantando.

Por tuas arestas góticas,
pelas orquídeas eróticas,
por tuas hastes ossudas,
pelas ânforas carnudas,
fui te escalando.

Por teus pistilos eretos,
por teus acúleos secretos,
pelas úsneas clandestinas
das virilhas de boninas,
fui me criando.

Pelos favores mordentes
das ogivas redolentes,
pelo sereno das zínias,
pelos lábios de glicínias,
fui te sugando.

Pelas tardes de perfil,
pelos pasmados de abril,
pelos parques do que somos,
com seus bruscos cinamomos,
fui me espaçando.

Pelas violas do fim,
nas esquinas do jasmim,
pela chama dos encantos
de fugazes amarantos,
fui me apagando.

Afetando ares e mares
pelas mimosas vulgares
pelos fungos do meu mal,
do teu reino vegetal
fui me afastando.

Pelas gloxínias vivazes,
com seus labelos vorazes,
pelo flor que desata,
pela lélia purpurata,
fui me arrastando.

Pelas papoulas da cama,
que vão fumando quem ama,
pelas dúvidas rasteiras
de volúveis trepadeiras
fui te deixando.

Pelas brenhas, pelas damas
de uma noite, pelos dramas
das raízes retorcidas,
pelas sultanas cuspidas,
fui te olvidando.

Pelas atonalidades
das perpétuas, das saudades,
pelos goivos do meu peito,
pela luz do amor perfeito,
vou te buscando.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

bola bola pastel

Certa vez eu escrevi para ele dizendo que ele foi o primeiro grande presente que a vida meu deu. A primeira criança com a qual eu dividi meu mundo e isso fez toda a diferença na minha vida. Eu lembro de esperar sua chegada como uma criança espera o Natal, eu queria muito saber como ele seria. Eu não tive ciúmes, apenas uma vontade imensa de compartilhar as coisas que eu havia aprendido antes dele, de brincar, fazer traquinagens, de caminhar lado a lado.
Revirando os armários minha mãe achou uma redação, ele tinha uns oito anos e inventou o personagem bola bola pastel. Era uma redação de uma sutileza, mostrava bem a pessoa sensível, carinhosa e engraçada que ele ainda é. E criativo. Lembramos a criança que ele foi, a criança que eu fui, nossas diferenças, semelhanças.... nada nunca interferiu na nossa união e amizade, ao contrário, um traz o equilíbrio que o outro precisa, eu sinto assim. Ter um irmão para mim, foi uma experiência inexplicável, eu sinto que não cabe em mim o amor e a admiração que eu sinto por ele.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

pé quente cabeça fria

"Dilacere meu coração para que se crie um novo espaço para o Amor Infinito" - oração sufi

O não-chão: eu me olhava e eu não acreditava ser aquilo. Eu não tinha mais como não olhar, foi de repente e eu parecia estar vendo outra pessoa. Eu vi, eu senti, ficou tudo muito escuro e dolorido, meu corpo doía. Eu não tive nem mesmo vontade de sair da cama, fiquei com medo, mas entrei. Estou aqui dentro ainda. Um pouco melhor, mas aqui dentro ainda, assistindo a tudo isso, confiando - ficará tudo bem.

E eu entendi dessa frase que somente se eu aceitar a morte - as várias mortes que enfrentamos no caminho da vida - é que eu poderei deixar espaço para nascer algo novo, algo que talvez não seja tão novo, algo que está esquecido, encoberto por todas essas máscaras/identidades que compõe o eu-sou. Lembrar de partes minhas que estão dormindo, abrir espaço para o Amor Infinito. Isso é muito abstrato, mas de algum modo eu entendi por querer entender, por querer deixar morrer.

Recordaram-me da intenção e da coragem, o Caminho do Guerreiro do Castañeda, e a proposta de um "banho gelado" me acordou de um longo sonho. Eu achei que estava caminhando, mas peguei no sono durante o caminho. Eu me surpreendi com essa novidade, eu não tinha percebido que dormia. E, então, acordei num susto, me desconstruindo, numa queda profunda, sem tempo de me segurar. Hoje é até engraçado contar, mas foi assim mesmo.

O Osho diz do Iluminado, o Acordado, o Buda: "Que ganha com isso um Buda? Nada. Pelo contrário, perde muitas coisas: o sofrimento, a dor, a angústia, a ansiedade, a ambição, o ciúme, o ódio, a dominação, a violência - perde tudo isso. E não obtém nada. Obtém o que ali já estava: recorda-se".

A força feminina para continuar olhando para dentro do escuro, a coragem para se soltar, a intenção de mudar e a primavera para ajudar a florir e a acordar para o Amor Infinito.

sábado, 17 de setembro de 2011

c'est toujours aussi difficile

"Tenho fases, como a Lua; fases de ser sozinha, fases de ser só sua".

Estou sentada na frente do laptop tentando dar continuidade ao texto desde às 13:00. Agora são 14:40. Tudo me parece mais interessante do que abrir o arquivo e começar a continuar. Sinto uma certa angústia porque 1º de outubro está logo ai e preciso terminar. Mas é sábado e o sol arde lá fora e tudo, hoje, me fascina mais do que o texto.
Já entrei no youtube, assisti a diversas performances, inclusive uma histórica do Planet Hemp em 1997, quando foram presos por apologia ao uso de drogas. Li um dos meus blogs favoritos e fiquei de novo angustiada com o texto ultra romântico. Doeu lá dentro, compartilhei. Selecionei tracks no 8tracks e de todo o conjunto do que ouvi, me arrepiou uma cantora mexicana: meu sangue latino ainda pulsa. Li também outras curiosidades na web. Dei uma parada, acendi um palo santo e me deixei entrar em cerimônia, conectada com o temaskal que está acontecendo e eu não fui porque aqui na Terra estão precisando de mim. Lembrei da minha irmã, das minhas irmãs, de honrar o feminino; o que só acontece quando estou honrando a mim mesma. Pensei no quanto é difícil mudar atitudes que não me servem mais, mas eu não quero desistir. Eu caminho sem pressa, pois como já disse Cecília Meirelles, "Faze-te sem limites no tempo". E como foi prazeroso redescobrir essa autora essa semana, lembrei da minha infância, ou isto ou aquilo.... Mas claro... Se os pensamentos não são meus, se são nuvens - eu gostaria de viver isso. E como eu penso. E como.
Eu estou fascinada pelo francês, e isso também me atrai mais do que o bendito texto. É bendito, sim. Eu sempre confundo o significado de toujours com tous le jours. E numa dessas fugas do texto, o mais engraçado foi descobrir, ainda é muito difícil, eu sempre estou pensando nele. Toujours. Mesmo ainda tendo as fases de ser sozinha, ainda tenho as fases de querer ser só dele.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

a linguagem dá barato

"rio do mistério
que seria de mim
se me levassem a sério?"

Evite conhecimentos emprestados. Ele é um artifício da mente, quanto mais você estiver rodeado de conhecimento, mais difícil de encontrar seu coração. Fica difícil encontrar-te, você perdeu o contato com teu coração. Essas palavras ressoavam e incomodavam, estava difícil ficar bem porque ela gostava do barato das palavras, mas queria voltar a saber com o sentir. Ser tocada e transformada pela experiência, sem se defender. O conhecimento é uma paixão, é uma droga. O conhecimento lhe dá a alucinação de conhecer. Você começa a sentir que sabe; sabe porque pode argumentar; sabe porque tem a mente muito lógica e aguda.

Ele gritou:
- Não seja tola! A lógica nunca levou ninguém à Verdade.

Ela sorriu:
- Eu sei, mas eu gosto de pensar, faz sentir que sou importante e especial. Inteligente.

- Mas uma mente racional é apenas um jogo, todos os seus argumentos são pueris.

Ela fixou, então, o olhar, nunca tinha percebido como toda a lógica da razão-sem-experiência é pueril. É notório, pensou.

Ele continuou:
- A vida existe sem argumento algum e a Verdade não necessita de provas, necessita apenas do seu coração. Não de argumentos, mas do seu amor, da sua confiança, da sua disponibilidade para receber. Por isso que as pessoas temem a meditação, porque ela é a morte do ego, e o ego é apenas um falso conceito.

Ela vinha percebendo no seu dia a dia a inutilidade das palavras, tantas palavras vazias tornavam a vida superficial. A profundidade, ver além da palavra, a experiência trazia. Quando ela amou sentiu uma fusão, dois já não eram dois. Então ela soube; soube de um lugar que não era o lugar da razão. Era o do coração?

Abraçou-o demoradamente. Agradeceu-o pelos ensinamentos do Tantra e caminhou rumo à praia, com um sorriso no canto da boca, pensando no poema. Sentiu um alívio profundo, acho que na Alma, por lembrar de não se levar à serio e de que não era escrava da própria mente.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

presente

Eu achei um dos presentes mais preciosos que recebi, dos eternos jardins: um par de asas e quatro patas peludas de lobo e rápidas. Para voar eu teria que usar os dois e teria que fazer isso no meio da multidão.
E não é que uma mulher assemelha-se muito a um lobo? Robusta, plena, com grande força vital, que dá a vida, que tem consciência do seu território, engenhosa, leal, que gosta de perambular. E quando ela se aproxima da sua natureza instintiva não significa que se desestruturou, agiu como louca ou descontrolada. Significa o oposto, pois a natureza instintiva possui vasta integridade. Implica em delimitar territórios, encontrar nossa matilha, ocupar nosso corpo com segurança e orgulho independentemente dos dons e das limitações desse corpo, falar e agir em defesa própria, estar consciente, alerta, recorrer aos poderes da intuição e do pressentimento inato às mulheres, adequar-se aos próprios ciclos, descobrir aquilo a que pertencemos.
Ela se enfurece diante da injustiça; é à procura dela que saímos de casa, é à procura dela que voltamos. E no meio da multidão experimenta toda a exposição, mesmo do que ainda não está perfeito, do que a auto crítica deseja censurar, costurar, remendar, refazer. A mulher selvagem procura e encontra, num ciclo infinito de caça.
E esse presente era uma caixa de ferramentas guardada no fundo do imenso baú dourado da vida, o presente de poder correr com os lobos.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

atraída pelo crime

1997. Começo a frequentar as sessões do tribunal do júri que aconteciam no tribunal atrás do meu colégio. Eu e Aninha fugíamos do laboratório para passar a tarde assistindo aos casos. Eu nunca vou esquecer a cara da ré do primeiro júri que assisti. Sim, era uma mulher. Botou fogo no marido. Ela parecia com a moça-manicure do salão de beleza, perto da minha casa, o qual eu frequentava.
Decidi fazer Direito, eu queria ser advogada porque o crime me fascinou. E eu sempre quis ser atriz também e, curioso, as duas profissões casavam bem.
2003. Começo um estágio que me faz resolver não desistir da faculdade. Encontrei, finalmente, o que eu buscava porque eu teimava em acreditar que o Direito não era "business". E não fazia sessões de júri, mas trabalhava com crime. Era o adolescente, que eu auxiliava o procurador do estado a defender, e ele tinha medo de me contar a verdade. Mas o juiz confirmou: sim, era lesão de quem foi pisoteado e não lesão de queda, conforme ele alegara. Primeiro caso de violência policial, o mundo não era mais tão doce.
2005. Aulas de medicina legal. As lesões e violências nos slides do power point eu já tinha visto na vida real. Iniciação Científica, Ouvidoria da Polícia, eu escolhi aprender a lidar com todo um monte de emoção e contradição e agora eu estava nesse caminho porque eu queria.
2006. Agora eu era advogada e processando eu faria justiça. Ah, mas as pessoas não querem denunciar, não tem prova Adriana, não tem sentença, não tem justiça. Tem medo.
2011. Volto à assessoria jurídico-popular de um outro lugar. Tento pensar diferentemente o direito e o crime continua no meu caminho, mas agora é um outro olhar. Confio que posso inventar alguma outra forma, pois estou cansada da violência e da intolerância, encontrei um coletivo antiproibicionista, re-encontrei alegria na militância e tenho mais fome de justiça do que nunca. A cidade que eu amo eu a penso como um espaço coletivo, onde eu, você, ele, nós, vós e eles possamos conviver, tolerar, dialogar, construir, conflitar, mas construir, construir. Com amor e não com medo. Que você e eu e ele e nós e vós e eles levantemos do nosso conforto e exigemos um outro mundo possível, de seres comprometidos, que escolhem sabendo que essa escolha afeta o cara ao lado. Coletividade não é "um monte de gente junto e eu não tenho nada a ver com isso". A ordem pública não é garantida pela exclusão do inimigo. A sociedade não precisa ser defendida. Contratar o contrato social não é pagar imposto, votar e achar que está fazendo a sua parte. Ser um cidadão de bem não é respeitar a lei porque a lei pode ser injusta, mas se você não refletir/questionar talvez nunca perceba. Ser justo e ético é qualquer outra coisa que não valores que só se aplicam a minorias (ainda mais pensando que também temos castas no Brasil e o topo da pirâmide certamente é a minoria). E se o papel do advogado nesse mundo não for o de colaborar para ressignificarmos o contrato social tantas vezes quantas forem necessárias e o de querer que os direitos humanos sejam mais do que um discurso bonito, que ele não abafe lutas e revoluções, então, eu não sei qual é. Ter coragem para não temer se um dia, talvez, extinguirem a profissão, ao invés de protegê-la a qualquer preço, porque sempre existem outros caminhos. Hoje o meu dia foi intenso: conheci pessoas interessantíssimas que me trouxeram força e confiança, mas também re-vi uma velha conhecida, a violência, só que de muito perto, o que me deixou triste, com raiva e muito angustiada com as impotências. Eu também detesto explicar gírias, mas ainda acredito que há muito amor em São Paulo, basta querer encontrar. Meu nome é Adriana e, por todas as minhas relações, eu falei.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

I need a man to love.

A raiva contida. Sentiu. Ainda ama aquele alguém, ainda sente saudades daquele alguém. Será que, ali no fundo, é isso mesmo? Eu sinto que ela não sabe o que quer, ora quer esquecê-lo, ora quer encontrá-lo, ora quer ser de vários novos amores, ora quer ser de um novo amor e só dele. Acho mesmo é que ela só quer brincar. Já me disse naquele dia que a vida sem amor fica sem graça, mas ouviu e calou quando o índio disse que aquele espírito inquieto nunca encontraria felicidade. Foi como tudo na vida que o tempo desfaz, foi uma desilusão assim que a fez perder a fé, penso eu. E ninguém é feliz, como diria o Gudin, se o amor não lhe quer. E ao passar seus dias tentando fingir que se tratou de um caso qualquer, leu o bilhete que ele escreveu naqueles tempos e sentiu amor. Leu o que ele pensava hoje, não se sabe como, e sentiu amor. Ver aquela pessoa reclamando de ter se apaixonado a fez lembrar de como ele era, deu vontade de fazer um carinho. E raiva. E tristeza. E solidão. Era mais um espírito inquieto o dele e o dela, estão sempre procurando, procurando, procurando.... até quando eles procurarão? Não sei. Existe o amor. Se toda verdade de um amor, o tempo traz, quem sabe um dia ele volta para ela, amando-a ainda mais?

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

macunaimizar

Estava eu ali no mato e as gotas caiam das folhas e soavam como passos de gente. Uma experiência de instantes, não uma experiência explicável, lógica. Cada escolha ali trazia em si uma verdade, a verdade daquele instante. Denunciar a razão, arriscando escolher, confiando em outra coisa que não nela. No silêncio do peito, a voz dizia para escolher e colher o que viesse, sem me defender. Esse era o ciclo.
Lembrei do, para mim gigante, macunaíma e de todas suas transformações e traquinagens. Um autêntico coiote, uma raposa, um traquinas. O anti-herói.
E na companhia do anti-herói, no mato, eu encontrei a liberdade do instante. Suas brincadeiras despertaram em mim o que dormia e me fizeram ganhar mais liberdade. Agora sei: sou só. Eu e a minha liberdade. Grande responsabilidade da solidão. Grande responsabilidade de ser quem eu quero ser, a cada instante.
E, então, a grande surpresa da responsabilidade da solidão, ela me trouxe para mais perto do amor. Eu estava amando muito mais, mesmo estando só comigo, eu estava junto. Meu peito parecia querer falar, estava cheio de energia, maravilhado com as maravilhas do mundo.
Eu digo que ninguém me prende mais e não tenho mais nem um pouco de medo, meu peito está aberto e sem defesas: quero me entregar ao próximo instante, ainda que desconhecido. Quero captar o meu é. Obrigada Betânia e Clarice, por me acordarem nesta manhã.

domingo, 7 de agosto de 2011

Rapte-me camaleoa

Hoje ela acordou experimentando, finalmente. Desde que a conheci eu espero por esse dia. Ela diz que eu sou o homem que ela escolheu para viver ao seu lado e sempre fez tudo para que eu me sentisse o homem mais amado desse mundo. Mas hoje eu senti que ela não faria nada que a desagradasse. Nem por mim, nem por ninguém. Ela só agradaria a ela mesma porque era o mais natural a se fazer.
Hoje ela estava livre e algo nela dançava. Ela parecia dançar preenchida por essa alegria que sustentava essa liberdade. Fomos para o parque e o sol ficou feliz com a presença dela ali, naquele estado, e consentiu clarear ainda mais seus cabelos loiros. Queimou mechas que por costume clareiam-se no verão. Como é possível alguém mudar naturalmente assim? Ela me alimenta sem me aprisionar.
Olhamos para o lado e mais corpos dançavam e os homens estavam de saia. É muito bom dançar de saia e ela ficou feliz de ver que esse prazer agora poderia ser experimentado por um homem. O balanço da saia no movimento, como um carinho. O corpo como um instrumento de poder que, ao mexer-se, seduz com seus músculos engajados no ritmo. A força e o prazer do movimento. Ela era isso para mim.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

suspiros de fantasias

Era uma vez uma mulher..... não, não, que tolice. Minha vida não tem vocação para contos de fada. E a de alguém tem? A vida de uma mulher pode ser comparada a uma ciranda de pedra? Lygia diz que sim, "mais importante do que nascer é ressuscitar".
E pensando sobre as vantagens dos contos de fadas, dos seus finais sempre felizes, percebeu que neles não morava o desafio de não ver, não receber qualquer sinal e acreditar. Será, então, que esse era seu desejo? Uma vida com um final feliz, mas quando seria o fim? Queria abrir mão do desafio? Seu desejo era o de ser feliz apesar dos desafios, antes do fim.
Era, depois de Clarice, uma de suas autoras prediletas, "também ela não precisara ver, em toda sua vida nunca precisara ver, desde que passara o tempo no jogo do 'faz-de-conta'". Concordava que era um jogo perigoso, o de acreditar-sem-provas e a cada escolha que a vida ofertava, escolher-acreditando-sem-provas, sem certeza. Era preciso sentir e para sentir era preciso ter fé.
E essa fé não estava em seguir um dogma, mas seguir a si mesma, seguir o ímpeto selvagem, o lado animal de ser que lhe chamava todo dia para vida, para mais vida.
Continuava naquele exercício de se desapegar das marcas do passado, dos amores não vividos, das expectativas não alcançadas, das frustrações e dos momentos felizes. Desapegar-se dos momentos felizes... e não? Rodar com a roda da vida.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Catch a fire

Hoje eu acendi um incenso e desci. Desci porque eu precisava pegar o que restava de mim no andar de baixo. Enquanto eu descia percebi que fazia um bom tempo que eu não me sentia tão relaxada.
Quando eu voltei, abri a porta e da sala eu vi a fumaça, grossa, cinza. Estranhei, mas pensei que poderia ser a diferença da marca nova de incenso.
Entrei no quarto, sem pressa.
Achei engraçado quando olhei o pote, vários incensos queimando ao mesmo tempo, "que bonito, mas eu só acendi um".
Não achei tão engraçado quando eu vi queimar a carta de tarô que eu tinha desenhado. Ela era estranha, mas eu havia aprendido a gostar dela.
Eu toquei fogo no meu quarto. Tocar é entrar em contato com: eu me coloquei em contato com o fogo.
O relaxamento que eu sentia era tamanho que a fumaça aumentava e eu olhava, comecei a rir percebendo a toalha queimando, todos os incensos queimando, meus textos queimando, "que rapidez e eficiência".
Coloquei o pote embaixo da água da torneira, um pano úmido sobre a toalha, joguei-os fora. Recolhi as cinzas.
Precisei ver o fogo para entender?
Vai fogo, segue certeiro, transformando tudo o que não me serve mais.

feel that honey.

Esse texto não é um rascunho. Ele vem sendo digerido há alguns meses, e ele ficava ali, às vezes eu esquecia, eu lembrava, eu esquecia, eu lembrava. Na realidade eu não sabia o que escrever sobre amor X sacrifício, dinheiro X prosperidade.... eu não sabia. Convidada a refletir sobre isso e eu não sabia, simplesmente.
Um dia o peito abriu e o amor era só sentir, não havia mais do que me defender. Não havia mais o que atacar, principalmente, pois era muita vontade de deixar a vida entrar. E sacrifício não combinava mais com amor, teria que ser fluido, fluido, na bubuia... E era um prazer absurdo sentir esse amor todo invadindo meu ser, era uma alegria com cócegas. Generoso e largo, cabia o mundo todo num abraço.
E nesse dia não havia mais dinheiro ou prosperidade, era a obviedade da abundância. Abundância expressa numa vida farta por si só. Era um agradecer e um chorar, agradecer-chorar. Muita gratidão pela vida-como-ela-é, pelos amores passados e futuros, pela família amorosa, pelos amigos e amigas e pelos pequenos tesouros. Reencontrei cada tesouro que no caminho sem ver, guardei sem saber e, para minha surpresa, mesmo eu tendo dado-lhes as costas temporariamente, eles estavam ainda lá, me esperando sem pressa ou cobrança.
A melhor parte era o peito receptivo e leve. Um pequenino grão de areia, ainda muito sonhador, agora sim conseguia ver suas estrelas-guias e voltava a pensar em coisas de amor.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

páginas sinceras me interessam

fique atento se uma pessoa te oferece o caminho mais curto
fique atento
a música bate no ouvido e ressoa
os encontros a vida propicia e até o que não parece ser é
eu vi aquilo, te digo que vi, mas não sei te explicar como
é um olho que sente
tem uma magia rolando, eu estou deixando
a vida tem pressa e eu tenho pressa de vida
cada um sabe o preço do papel que tem
a música bate, agora, no peito
Flores e frutos da imagem com as quais eu faço essa viagem
forte, farta, bela
Pelo chão, muitos caroços como que restos dos nossos próprios sonhos devorados
Ainda mais linda, madura
Pura
e se tudo o que eu quero dizer para o mundo já está escrito
se nada do que eu escrevo é novidade e não te toca
não me importa eu passo os dias a reinventar os modos de dizer
o que importa dizer para mim mesma
para eu lembrar
escrevo como que tecendo uma colcha de retalhos
me empresta isso, isto e aquilo
formou
eu quero brigar com você e quero fazer as pazes

terça-feira, 5 de julho de 2011

tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas

obrigada grande espírito, por quem eu me tornarei por meio de tudo aquilo que me acontece.

e, então, ela fechou o livro e sorriu.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

força



"pelas plantas dos pés subia um estremecimento de medo, o sussurro de que a terra poderia aprofundar-se. E de dentro erguiam-se certas borboletas batendo asas por todo o corpo". C.L.

Essa é uma das imagens mais fortes dos últimos tempos para mim. E força ganhou todo um novo entendimento após um círculo de mulheres, no qual brincamos com nossos ossos. Essa imagem reflete justamente o que não vemos com facilidade, mas o que nos dá estrutura e força, o que está dentro.

Clarice Lispector já disse que milhares de pessoas não tem coragem de prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida de "sentir-se", e preferem a mediocridade. Sentir o que está dentro de si e que se manifesta como borboletas: medo, raiva, alegria ou tristeza. Poder expressar esse sentir, ser verdadeiro consigo mesmo, ser doce e delicado é, então, que descoberta, ser forte. Mas ainda há a crença de que a força vem de um outro lugar, um lugar duro. A força pode ser mole, feminina.

Tentar separar o que é meu e o que é do outro. Compreender que mesmo nas situações mais ofensivas a sua pessoa, você está ali dentro e vai precisar confiar em você, porque se esperar vir de fora essa confiança, talvez você passe sua vida esperando.

Essas marchas que vêm acontecendo pelo país, pacíficas, as conquistas trazidas pela união de pessoas, serão expressão desse movimento? Conquistar liberdades com força e determinação, mas buscando essa força de um outro lugar. Sinal, talvez, de um outro mundo possível, onde cada vez mais vozes, possivelmente, coexistam?

E para conseguir ser forte, então, nesse novo modelo, é preciso confiar, confiar mesmo quando não se vê. É preciso um passo anterior, arriscar ser ridículo, ser tolo, amar e dar vexame, pedir o telefone do baterista que é amigo do fulano.... é, tem que estar disposto a arriscar aquela certeza, aquela imagem à qual você se agarra e acredita que é você. Arriscar que você também não é perfeito como gostaria de ser, mas você se respeita. Afinal, diria Clarice, (e)terna, "pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver".

Liberdade eu nunca quero te esquecer, para ir escolhendo viver, com meus ossos e minhas borboletas, na minha imperfeição.

ps: foto roubada, carinhosamente, de Mariana Camarote. Afinal, como disse um amigo querido: "que alegria pode a arte (do crime) em nossas vidas?"

quinta-feira, 30 de junho de 2011

vez em quando longe, eu me sentia longe de mim

Eu amo o Gilberto Gil, não o Ministro, o músico. Nesse blog vocês não vão ler sobre política partidária. Já me bastam as outras horas do meu dia, as quais tenho que falar, escrever e pensar sobre o "poder" ou, mais especificamente, como o sujeito é afetado pelo poder em suas mais variadas formas..... Enfim. Eu tenho isso de não conseguir fazer nada que não seja por amor e eu amo o meu trabalho. Mas aqui é outra viagem: eu escrevo brincando com a pontuação, escrevo em maiúscula, em minúscula; eu expresso o que eu quiser, seja ficção, seja realidade. Aqui eu me permito me perder, para depois me achar. Aqui eu escrevo para me achar.

Voltando ao Gil, minha mãe está lá na sala assistindo a um documentário, "Tempo Rei", sobre ele, lindo, recheado das canções mais lindas. E hoje ela me fala com a maior naturalidade sobre Strauss, quase morri de admiração, ela sempre me surpreende. Eu gosto de Stravinsky.... O Gil.... ouvi o trecho: "lá em Londres, vez em quando me sentia longe daqui/ vez em quando, quando me sentia longe, dava por mim". Essa coisa de estar longe.

Dizem os sábios que a tartaruga carrega consigo sua casa, o seu casco. Eu gosto dessa metáfora. Estar longe de onde se quer estar, tanto fisica quanto emocionalmente, não causa tanta dor quando se está "em casa", quando se está dentro de si, dentro do seu casco. Sinto que é essa "casa" que sustenta suas outras escolhas, porque nem sempre estamos onde queremos estar. Muitas vezes temos que escolher algo para chegar a um outro algo, talvez mais próximo do que se quer. São tantos pratos a equilibrar nessa vida, outros a guardar com carinho, outros a quebrar. O Gil estava em Londres, exilado, puxava os cabelos nervoso, querendo ouvir Celi Campelo para não cair naquela fossa. Aposto que o que ele queria mesmo era estar na Bahia, no Brasil, poder cantar sem mordaça, mas não dava.

Terça-feira conversávamos sobre isso. Foram necessários muitas palavras e muitos autores para tentar fundamentar isso da "casa", não concluímos. No meu entender, tentávamos fundamentar a ideia da "casa", do "lugar" que te dá "força" ou "sustentação". Ele te possibilita viver em um mundo hegemônico, que coexiste com tantos outros mais prazerosos ou mais afetos. Mas ninguém escapa do "mundão", grosso modo.

Mas o que eu sinto, e ai deixo toda a racionalidade de lado, é que quando estou longe é porque me sinto longe de mim.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

vale um rascunho?

o tempo vai me dar tempo de dizer aquilo tudo que eu quero te dizer? vai dar tempo? vai dar, tempo?
passa o tempo e eu fico tranquila, estou aqui para o que você precisar.
eu li em um poema:
hermes é o deus que conduz as almas
até seu destino
o deus que tira o sentido das mensagens mortas
e as conduz à vida do entendimento...
alquímico.
você me ensinou o seu amor pela mitologia e eu fiquei fascinada. ensinou também que a vovó te ensinou que todo presente que se preste, deve vir acompanhado de uma cartinha. você sempre teve o dom da escrita e sempre é muito carinhosa e amiga. meus presentes sempre vieram com lindas cartas. sou eternamente grata por tudo, por tanto amor incondicional.
tudo o que está acontecendo hoje vem possibilitando o brotar do compartilhar que antes não existia. assunto difícil para o coração, mas inevitável. queremos tudo resolvido ontem, mas o tempo é exato. sabe, ele falou para ela, eu ouvi, que ao contrário do que dizem, o tempo não passou rápido demais, "foi o suficiente". é, eles são felizes. nós somos felizes.
eu quero mais uma visita àquele restaurante árabe, aliás, eu aprendi a comer kibe cru com você.
aquele meu amigo gosta tanto de você! como é bom saber quanta coisa linda você já plantou na sua vida.
eu tenho um monte de amor para te demonstrar e eu queria ter certeza de que você soubesse, mas eu não quis esperar a versão final, vale o rascunho? fico com a gostosa sensação de que ainda tenho muito a dizer e com muito tempo.

compositor de palavras

"quero escrever movimento puro" C.L.

Escrever um texto-música não é o mesmo que escrever uma música. É compor palavras, mas não como se compõe notas musicais. É como compor os passos, a fim de estabelecer um movimento. Em cada virada tirar um suspiro, se é isso que se quer, do leitor. E, às vezes, o compositor deseja escrever em determinado ritmo. Como no tango, um texto dramático. Como na valsa, um texto que desliza. Como na salsa, um texto ritmado. Como no chorinho, um texto bem elaborado. O compositor de palavras deseja que o leitor sinta o movimento do seu texto e, por isso, meticulosa e intencionalmente, cria.

domingo, 26 de junho de 2011

reflexões de um coração adolescente em um corpo de trinta

É dolorido querer aquilo que não se pode ter, ela pensou. Passava seus dias pensando naquele homem, mas ao mesmo tempo poderia ser um pensamento-passatempo, daqueles que ficavam rondando porque não se tem nada melhor para pensar. E é tão gostoso pensá-lo! Embora um dia acreditasse, hoje seu corpo queria fazê-la duvidar da existência do amor/paixão à primeira vista, pois estava cansado das loucuras do coração que habitava aquele ser. Isso de "paixão à primeira vista" existir, era "bom demais" para uma pessoa com um coração adolescente, louco por aventuras, louco para escapar da rotina. A faceta abundante da vida: duas vidas que fazem um clique. Era possível que isso acontecesse quantas vezes em uma única existência?
Ela me contou que o que ela gostava mesmo era de embarcar numa paixão e viver com aquele coração acelerado, pés nas nuvens, sorrisão na cara. Ela gostava mesmo era de viver no limite da intensidade. Quando uma paixão acabava e a tristeza do fim superada, a vida ficava sem brilho, ela dizia. Ansiava pela próxima história. Para ela o amor ou a paixão (tudo era bem-vindo) eram necessários para dar uma apimentada no dia-a-dia, já que o capitalismo fazia sua parte deixando a vida morna e chata - trabalho, casa, trabalho, casa, happy hour, casa -, valores pequeno-burgueses sendo alimentados enquanto as pessoas estão digladiando no trabalho, em casa e nas relações.
Então, quando ela o viu..... imaginem. O coração acelerou. Mas, então, algo de diferente aconteceu. O corpo falou, "quero um pouco de sossego, estou cansado de viver esses altos e baixos que você me impõe coração e, além disso, essa história está com cheiro de complicada". O caminho do meio poderia ser interessante, "esquece essa história". De repente, pensando no passado, sua vida ressoava em toda e qualquer canção do Roberto Carlos e ela não queria mais isso. Estava com trinta anos e não podia mais se entregar a loucuras desmedidas, afinal, ela já sabia o que queria, o que era bom ou ruim para ela.
Encontrei-a outro dia e ela me disse que sentia estar sendo inútil toda essa tentativa de equilibrar corpo-coração, pois já disse um velho sábio que o coração tem razões que a própria razão desconhece.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

conversando com

passou o tempo e eu lembrei do blog.

lembrei de quando eu estava escrevendo por prazer, sem me preocupar com nada, absolutamente. pior, lembrei de estar muito feliz escrevendo.

lembrei do tombo de abril, lembrei do tombo de.... é possível "tombar" quantas vezes? pode esperar eu levantar? não sei, a vida é cheia de coiotes.

esses momentos de felicidade sem disciplina... ah, como eu adoro.

as regras me sufocam e eu sofro tentando me encaixar nesse mundo. eu tenho dificuldade de aceitar e compreender as regras que vieram antes de mim (no fundo eu não quero aceitá-las, justamente porque as compreendo e não concordo!). eu queria ter opinado (e falo isso sentindo um riso por dentro).

de repente percebi muitos e muitos egos dentro de mim (ué, mas eu já não os tinha superado?). de repente me percebi sozinha. eu quero estar sozinha? quero. dizem que é inadequado assumir isso, mas não tem problema, eu quero assumir.

eu não quero mais ligar para as "adaptações", eu só sei que eu não quero mais um sapato apertado ou uma camisa de força com o rótulo "namorado" que conforta meu ego carente, mas sufoca minha alma.

em um desses "tombos" duvidei da minha escrita. logo a escrita? a única coisa que me garantia alguma liberdade, que não dependia de aprovação de ninguém, algo meu para mim...

ainda bem que eu levantei do tombo. aprendi muitas coisas, como em todos os tombos, mas decidi que em certos momentos eu iria continuar escrevendo como felicidade desregrada, como brincadeira de inventar. eu quero poder criar algo em algum espaço dessa vida.

outro dia me passaram um exercício: não reclamar. nossa, eu sou muito ranzinza. logo pensei que deveria ser culpa de ser capricorniana com ascendente em capricórnio. claro. contei para uma amiga, mas ela discordou e me disse que eu era uma pessoa positiva, pois eu tinha esperança, esperança de que as coisas podem mudar. fiquei confusa. é, eu tenho fé na alegria e nas pessoas. acho que ela estava certa.

meu humor é ácido e eu não gosto do que é politicamente correto. o dia está cinza, está muito frio e eu estou muito feliz de novo, escrevendo.

amando mautner

SANSÃO E DALILA, por Jorge Mautner

Sansão e Dalila
A canção que repercute, dali lá
Escute, vê se entendes meus prantos
Ó Ruth caligut Mendes dos Santos


Flechas como os pigmeus
Feitas de segredos meus
Para corações ateus
E para os crentes do divino Deus


Flechas saem do meu coração
Não sei pra onde elas vão
Só sei que às vezes elas vem
Bater em alguém sem coração


Depende só da ocasião
Umas flechas que só vem
Outras flechas que só vão
O porque disso aí
Justamente não sei não
Juro que... não!


Elas vem envenenadas
De coisas apaixonadas
Que o bruxo do amor que eu sou
Com carinho preparou


Outro dia numa oração
Flecharam a cruz da emoção
No altar cheio de luz
De Nossa Senhora da Conceição


Um dia numa ocasião
Mil flechas em profusão
Atingiram um espelho
Aí se deu a confusão


Me apaixonei só por mim mesmo
Num egoísmo muito vesgo
(num egoísmo tão a esmo)
Mas agora não
Sei bem o que é essa boba ilusão


Outra vez num quarto escuro
Voaram setas pro futuro
Furando aquele longo muro
Que aprisiona a solidão


Flechas que saíram em fila
Num filme que pra ver eu fiz fila
Do coração de Dalila pro coração de Sansão

domingo, 10 de abril de 2011

reset

na sexta-feira eu pensei: "hoje eu gostaria que existisse o 'botão reset' no corpo humano". "reset". procurei no dicionário: "set again or differently".... a pessoa poderia pressioná-lo, o acontecimento seria apagado e ela teria a chance de viver aquilo de outra forma ou, simplesmente, não o viver. ai uma amiga me disse, poderia existir o "format". mas "reset" é melhor do que "format". "format": "prepare to receive data". o corpo humano tem um espaço ilimitado para armazenar informações, não precisaríamos de um botão para apagar algumas e permitir que caibam outras.... muito menos quero esquecer meu passado, formatar meu passado, porque ele constitui a multiplicidade que sou. o "reset", porém, seria muito útil, pois às vezes abrimos espaço na nossa vida para algum tipo de experiência, ou experiências, que nos traz/trazem muito sofrimento. reprogramar aquele acontecimento, mudar a rota no momento em que a carruagem começa a descer descontrolada ladeira abaixo, colocar a carruagem de volta aos trilhos para a viagem seguir tranquila, feliz, linear.... que sonho, passar pelas experiências, aprender com elas, mas poder mudá-las quando elas começam a nos fazer mal, quando elas nos exigem um esforço sobrehumano para superá-las, um esforço sobrehumano para não guardar mágoas, um esforço sobrehumano para se reconstruir e voltar a viver leve, para voltar a viver sorrindo sinceramente, para voltar a viver com o peito aberto para novas experiências.... que sonho. pensei, pensei, pensei sobre isso e lembrei de um botão, que já existe e, talvez, não traga a comodidade do "reset". porém, este botão, apesar de desempenhar uma função que demanda um esforço consciente, permite honrar o passado e honrar os aprendizados que eles nos trazem, honrar as experiências que nos constituem: "perdão". o "botão" do perdão, não no sentido/peso que a igreja católica deu para o termo, mas como o ato de ficar no momento presente, após refletir sobre a experiência atravessada. não se conseguirá, talvez, apagá-la da memória, mas simplesmente, abrir um novo lugar. o ato consciente de ficar aqui, agora e abrir um novo lugar.

terça-feira, 29 de março de 2011

exercício

ela estava pensando sobre um parágrafo, precisava colocar ali várias vozes. eu penso demais, mas na hora de escrever, as vozes se calam. freio. que freio é esse? você tem talento, mas soavam como elogios de familiares. a realidade, essa eterna busca por algo "real", algo que fizesse sentido, algo que encaixasse. ele lhe disse que buscava o "mundo real", ele estava ansiando o momento de viver no "mundo real". ela riu porque achou irônico ele se colocar daquela forma, justo ele, um homem selvagem. de que realidade ele estava falando? ela estava cansada de viver naquela forma de sapato velha, sentia tudo como uma moldura que sugasse sua vitalidade.....você precisa crescer, quando você vai viver a vida real, parar de idealizações? ela nunca acreditou nisso "realmente", mas tentou se encaixar e a vida conspirou: arranjou um namorado maravilhoso, ajudou quando os problemas surgiram e aqui ficou. ficou talvez porque não aguentaria o julgamento alheio dizendo que ela fugira. ele pediu para comprar um de seus cigarros, porque você simplesmente não pede? curiosa você. eu sou, você gostou? e, num estalo, ela lembrou que o papel continuava em branco, ainda não havia escrito o parágrafo.

quarta-feira, 23 de março de 2011

escrever

"Escrever é talvez trazer à luz esse agenciamento do inconsciente, selecionar as vozes sussurrantes, convocar as tribos e os idiomas secretos, de onde extraio algo que denomino Eu [Moi]”(Deleuze e Guattari, Mil Platôs vol. 2, pp.23-24)

domingo, 13 de março de 2011

morar em são paulo

"São Paulo é outra coisa / não é exatamente amor / é identificação absoluta / Sou eu / Eu não me amo, mas me persigo / Eu persigo São Paulo"


eu fui dormir querendo escrever sobre morar em são paulo, depois de um fim-de-semana tipicamente paulistano: visitando e encontrando pessoas. estar no morumbi, em osasco e na vila mariana em um só dia me levou a refletir sobre essa dinâmica relações-espaço que travamos por aqui. não escrevi.
o tempo passou e continuei passando por experiências que me levaram a sentir essa dinâmica relações-espaço. sou uma pessoa nascida nesta cidade e muitas vezes não quero estar aqui e em outras tantas vezes SÓ quero estar aqui. são emoções que brotam sem controle, quando me percebo acompanhando tantas vidas indispensáveis no meu roteiro, vidas que se enredaram na minha ao longo dos anos. aqui finquei minhas raízes e fui tecendo minha rede: na família, na escola, na faculdade, nas experiências profissionais, no trabalho sobre mim mesma.
frequentar espaços que são como extensões da nossa casa, com tantas histórias ali acumuladas, não tem preço. percebi esse amor por alguns espaços determinados quando encontrei no meio da rua, no meu bairro, uma amiga que recentemente se mudara com o marido e não estava familiarizada com "onde poderia beber uma cervejinha após o expediente" e pediu uma "dica". compartilhei com maior prazer e um certo orgulho o lugar secreto, que só quem mora ali sabe, cujo nome não se localiza no "google". encontrar as pessoas que a vida-de-velocidade-insana não deixa, em lugares inusitados, sem combinar previamente.... isso é praticamente ficção em são paulo e quando acontece, traz muita alegria ao paulistano tão privado de momentos de lazer e riso fácil.
acompanhar como cada uma dessas relações está escrevendo sua história, como cada uma está compondo a sua vida com outras vidas, como cada uma está vencendo, ou ainda lutando, suas batalhas tem tomado meu corpo de alegria, de um prazer por estar viva e por estar aqui, agora.
morar em são paulo é ter o prazer de estar com as pessoas, eu penso, porque a cidade não te reserva muitos espaços para desfrutar a cidade. para desfrutá-la é preciso imaginação e se o paulistano não desenvolver isso, ele se torna aquele que apenas reclama da cidade.
em alguns momentos eu me pego desfrutando a cidade. por exemplo, quando em pleno vale do anhangabaú há um grafite novo ou quando um pôr-do-sol mais alaranjado deslumbrante ali no final da avenida paulista cruza meu caminho. em outros momentos eu me pego hipnotizada pelo paredão branco do auditório incrustado no meio do verde, ao lado do tráfego-sem-trégua, no coração do parque do ibirapuera.
a cidade para o estrangeiro é sempre aquele lugar a ser desbravado, e muitas vezes quem mora na cidade, seja ela qual for, só a reencontra no encontro com o estrangeiro. e hoje eu vivi essa experiência do reencontro com a minha cidade. um amigo paulistano de férias por aqui (que ironia isso para um paulistano...) mandou suas fotos e eu fiquei deslumbrada. a beleza da cidade, vista por seus olhos que, agora, são olhos estrangeiros.
morar em são paulo é algo de grandioso pela questão espacial, como percebi quando me peguei explicando as linhas do metrô para um amigo ou quando conversava sobre os problemas da cidade na volta de Pedra Bela no carro com o querido futuro compadre (marido de uma amiga-irmã, a gente pode chamar assim?), enquanto ela dormia.
ao mesmo tempo morar em são paulo é amoroso e aconchegante, porque o paulistano sabe afinar as relações, sabe criar intimidade, sabe acolher. talvez isso seja mesmo obra irônica da própria cidade, que, com seu ar aparentemente gélido, nos fez/nos faz assim. Parafraseando Itamar Assumpção eu digo que persigo são paulo, persigo-a carinhosamente até encontrá-la e quando a perco, persigo-a de novo e sinto um grande prazer no reencontro. tão prazeroso como o é o desbravar quando se é estrangeiro em outra cidade.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

quando não há dúvida

Hoje procurando aleatoriamente sobre música ela se deparou com um blog. Não era assim, nada demais, ela pensou. A vontade de ser escritora, curiosamente deve tê-la levado ali. Está buscando descobrir quem é, porque se sente como se estivesse se desconstruindo e não lembra mais o que é terra firme. Sabe do que gosta, mas às vezes parece que até esse gostar é apenas a lembrança de um sonho bom, de uma época onde ela sabia.

O texto falava de amor, um amor entre um homem e uma mulher, e soou tão verdadeiro que seu corpo tremeu. Sentiu um aperto no peito e lembrou daquele último romance que tivera onde havia dito "eu te amo", mas mesmo tendo ouvido de volta, descobriu que isso poderia não significar a mesma coisa para o outro. O que ela entendia por isso era sinônimo de entrega, de tentar a todo custo dar certo, mas para ele não. Para ele passava por um lugar de analisar o outro e diante dos defeitos que ele avistara, decidir. Decidir por alimentar uma amizade, sem a expectativa de um romance, sem a expectativa de um dia poder chamá-la de sua mulher e vice-versa, mas ela não acreditou.

Ela achou que era apenas mais um modo de dizer que ele não a queria, mais um após tantos homens que lhe disseram tantas coisas, coisas que realmente não sentiam ou escolheram não viver. Será, ela pensou, que o amor que ele dizia sentir não era então de mesma intensidade do que ela sentira, porque ela já não podia pensar na sua vida sem ele, sem a expectativa de poder viver aquele amor, aquela troca.

Tudo isso se tornara uma grande confusão mental porque ela não iria mais conseguir saber a verdade. E o que era a verdade? Cada relacionamento é um e trazer ao relacionamento as cargas do passado, nunca pode ser produtivo. Mas quem é que consegue? Entrar limpo, de peito aberto, confiante...

Parece que esse texto a trouxe de volta para casa, para aquele lugar dentro dela que sabe que quer amar e ser amada, mas que não quer implorar por amor. Não se implora por amor, o amor é. O amor, sabe? Amor aquela coisa que não se controla porque não se consegue ficar longe do ser amado. Não por posse, mas porque é gostoso experimentar unidade. Aquele querer dividir sua vida com alguém que faz seu corpo tremer de desejo e admiração. A entrega, a compreensão e a amizade.... Utopia? Ah... o texto..... o texto não tinha cheiro de utopia.

Tudo isso se passou muito rápido, durante a leitura, e quando terminou se deu conta da dor. Se deu conta que está sofrendo com mais esse fim, sabe que está moida por dentro e sente que as palavras não dão conta desse sentimento. Esse sentimento que a invadiu e a reorganizou quando leu o texto, reorganizou o que estava completamente desesperado, reorganizou a mente que todo dia pensava uma nova forma de arrumar o que se quebrou, aquele lugar que estava com muito medo de ter perdido o amor da sua vida. Perder o amor da sua vida porque errou. De repente, isso não fazia sentido nenhum, porque no amor não se erra, se faz tudo aquilo que é possível naquele momento, com o que se sabe fazer.

Ela confiou e sentiu que está no momento de se re-colher e lamber as feridas, esperar o ritmo da vida. E novamente, mas de outra forma, por amor a si mesma, entregar.