segunda-feira, 31 de outubro de 2011

para nena e fábio, com amor. muito amor.

29.10.2011

Ouvi dizer:

Coloca o coração naquilo que importa, porque o que é do coração fica. Então, eu vou falar em nome de encontros e das relações que têm muito coração, que importam.

A semelhança física me trouxe uma irmã quando eu menos esperava. Eu estava no segundo colegial e uns amigos em comum diziam que a gente se parecia, mas nós não nos conhecíamos e não queríamos saber desse papo. Um belo dia, porém, o destino quis diferente e fez a gente se cruzar descendo a escada do nosso colégio marista. O tempo, então, começou a me mostrar que era uma amizade para regar.

Eu posso dizer que aprendi muitas coisas com a Nena, principalmente sobre receptividade. Essa palavra me veio claramente quando eu tive a honra de ser convidada para falar nesse momento tão especial de celebração da vida e do amor.

Receptividade é a qualidade de não colocar barreiras para o encontro, não pré-julgar, aceitar, saber receber e sabiamente dar. Ficar disponível ao amor. O amor reconhece isso e vem correndo ao encontro, floresce o jardim, deixando-o em festa, como na primavera.

A receptividade supõe essa abertura, supõe a abertura para o amor entrar como um raio de sol, esquentando e iluminando, esquentando e iluminando. Ele entra e sai na mesma proporção.

Ser receptivo significa se entregar ao outro sem reserva e se engajar na relação sem buscar recompensa ou compensação. É também deixar livre, porque amar jamais aprisiona ou subjuga-controla ou manipula. E é essa qualidade de receptividade que faz todos nós sempre querer estar por perto.

Conhecendo um pouco mais da minha irmã fui conhecendo sua família que não mediu esforços para me receber. Porque essa é a qualidade de todos eles, com todos que os cercam: reunir, compartilhar, celebrar, de peito aberto e disponível. Dão e recebem amor na mesma medida. Sempre com um gigante sorriso no rosto e um abraço apertado que a gente não quer soltar.

Foi então que, quando conheci o Fábio, não tive surpresa nem dúvida, vi que ele tinha vindo para entrar nesse nosso mundo onde reina o coração. Fábio, o cara também de sorriso largo e peito aberto. Tão querido e tão amado quanto a Nena.

E nesse dia de hoje, um dia de oração e celebração, flecharam a luz da emoção nesse altar cheio de luz. E que essas flechas saiam em fila atingindo com muito amor o coração desse casal que sabe receber e merece receber todas as bençãos dessa vida. Amo vocês.

sábado, 8 de outubro de 2011

pelas ruas que andei

manhã, sol forte, a prática é o critério da verdade

as experiências tentam mostrar um numseioque não tenho conseguido entender

estou tentando

nasce a noite, vai-se a vida rebolando pr’outra parte
nem vale a pena pensar sem malícia e agilidade
tudo pode acontecer? não, tudo irá.

quando? tenho pressa, ainda. mesmo com tudo ao meu redor pedindo calma.

olhos abertos, mãos ávidas agarram-se ao mundo:
o amor e seus cabelos, as ilusões, o coração aprisionado.

o coração aprisionado.... um homem bicho do mato.
o medo existe para ser vencido, disse Pedro Lage. mas eu não sei mais se é medo ou se é escolha.


ensinar? sim... mas, quando? o palhaço descobriu na ausência a sua vocação. E eu, tento acreditar, mas eu queria conseguir, que mais cedo ou mais tarde, nem tudo vai dar errado.

sábado, 1 de outubro de 2011

Balada do Amor Perfeito

Paulo Mendes Campos

Pelo pés das goiabeiras,
pelo braços das mangueiras,
pelas ervas fratricidas,
pelas pimentas ardidas,
fui me aflorando.

Pelos girassóis que comem
giestas de sol e somem,
por marias-sem-vergonha,
dos entretons de quem sonha
fui te aspirando.

Por surpresas balsaminas,
entre as ferrugens de Minas,
por tantas voltas lunárias,
tantas manhãs cineárias,
fui te esperando.

Por miosótis lacustres,
por teus cântaros ilustres,
pelos súbitos espantos
de teus olhos agapantos,
fui te encontrando.

Pelas estampas arcanas
do amor das flores humanas,
pelas legendas candentes
que trazemos nas sementes,
fui te avivando.

Me evadindo das molduras,
de minhas albas escuras,
pelas tuas sensitivas,
açucenas, sempre-vivas,
fui te virando.

Pela rosa e o resedá,
pelo trevo que não há,
pela torta linha reta
da cravina do poeta,
fui te levando.

Pelas frestas das lianas
de tuas crespas pestanas,
pela trança rebelada
sobre o paredão do nada,
fui te enredando.

Pelas braçadas de malvas,
pelas assembléias alvas
de teus dentes comovidos
pelo caule dos gemidos
fui te enflorando.

Pelas fímbrias de teu húmus,
pelos reclames dos sumos,
sobre as umbelas pequenas
de tuas tensas verbenas,
fui me plantando.

Por tuas arestas góticas,
pelas orquídeas eróticas,
por tuas hastes ossudas,
pelas ânforas carnudas,
fui te escalando.

Por teus pistilos eretos,
por teus acúleos secretos,
pelas úsneas clandestinas
das virilhas de boninas,
fui me criando.

Pelos favores mordentes
das ogivas redolentes,
pelo sereno das zínias,
pelos lábios de glicínias,
fui te sugando.

Pelas tardes de perfil,
pelos pasmados de abril,
pelos parques do que somos,
com seus bruscos cinamomos,
fui me espaçando.

Pelas violas do fim,
nas esquinas do jasmim,
pela chama dos encantos
de fugazes amarantos,
fui me apagando.

Afetando ares e mares
pelas mimosas vulgares
pelos fungos do meu mal,
do teu reino vegetal
fui me afastando.

Pelas gloxínias vivazes,
com seus labelos vorazes,
pelo flor que desata,
pela lélia purpurata,
fui me arrastando.

Pelas papoulas da cama,
que vão fumando quem ama,
pelas dúvidas rasteiras
de volúveis trepadeiras
fui te deixando.

Pelas brenhas, pelas damas
de uma noite, pelos dramas
das raízes retorcidas,
pelas sultanas cuspidas,
fui te olvidando.

Pelas atonalidades
das perpétuas, das saudades,
pelos goivos do meu peito,
pela luz do amor perfeito,
vou te buscando.