quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Te conto Elena, senta aqui

Hoje me emocionei lembrando a primeira música que cantei para você. Ela veio numa intuição, queria te acalmar porque você chorava muito para tomar banho. Eu ficava tensa, pois não queria te ver "sofrer" e quando cantei você não chorou. Foi mágico! Tia Marisa filmou uma outra vez que cantei, quando fui mostrar para ela e para a vovó Lúcia como você gostava dessa música. Hoje percebi que naquele dia eu não sabia nada de você, mas olhando lá trás eu já vejo como era tão você. Engraçado. "Nhem-nhem-nhem/Nhem-nhem ô xorodô/Nhem-nhem-nhem/Nhem-nhem ô xorodô/É o mar, é o mar/Fé-fé xorodô..."
Engraçada essa sensação que tive de saber que lá nos seus primeiros meses eu não te conhecia. Eu sentia posse, instinto de proteção aguçadérrimo, mas eu não sabia que você seria engraçada e brava, pequena e forte, persistente no que quer, observadora e que amaria morangos como eu. Eu quero contar muitas coisas para você, somos tão água. Comprei uma nova imagem de Iemanjá, ela tem estado tão presente na nossa rotina e eu adoro ver você dando beijinhos nela quando digo: "vamos dar bom dia para a mamãezinha Iemanjá?". E você a beija e dá risada.
Agora você chora porque não quer trocar a fralda nem a roupa. Cantamos então outra música: "oi tralalalalala oi.... as flores já não crescem mais...." e lembro da minha infância, cantando com a Mari e a Fê a música aprendida na escola SOL. Inocentes e felizes. Papai fala que não é possível uma neném se acalmar com a música que fala do apocalipse, pois é! Ela é bem triste mesmo, mas você adora, mexe as mãozinhas num remix emendando com o "parabéns a você". Outro grande hit da sua lista.
Você gosta também de cantar com o urso que o tio Rafa deu: "Brilha Brilha Estrelinha/Quero ver você brilhar....." E a vovó Lúcia não podia ter dado apelido mais certeiro. Vovó, adoro quando minha mãe imita índio e toca o tamborzinho que você me deu para eu dançar.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Conto para Elena

Agora você dormiu e encontro tempo para escrever, escrever para você. Escrever sempre foi um exercício para minha satisfação pessoal e agora uma enorme vontade de registrar o que estamos vivendo com o frescor dos acontecimentos e não com a memória. A maioria dos minutos tem sido eu e você, o dia passa veloz. Desconfiam, "não dá tempo?". Respondo com o silêncio, não me interessa mais justificar. Entreguei-me a esse tempo: intenso quando estamos juntas e escasso quando estou sozinha. É ambíguo mesmo, assim como a maternidade.
Hoje você faz cinco meses, nem todos os dias foram felizes, nem todos os dias foram sofridos ou tristes, mas foram sempre ambíguos. Eu venho aprendendo muito sobre entrega e vivendo com mais inteireza essa história de ser mãe. Começo a surfar nesse mar de ambiguidade ao invés de tomar onda atrás de onda na cabeça.
Você acordou. Mamada, choro, insiste no mamá, chora mais, você faz pum e seu pai sugere: banho? Sim, banho. Agora você está mais tranquila explorando movimentos no sofá. Choro. Papai pega você no colo para eu continuar a escrever.
Ao longo da gravidez sentia que estava me preparando para o parto e pensava muito sobre entrega, imaginava que a dor seria suportável porque eu estava disposta a entregar e entrar na dor como em um temaskal no qual você leva uma peia e sai renascido. Mas quando a dor chegou eu percebi que não estava preparada para morrer naquela dor. Lamento só perceber isso hoje, mas (...)
Não deu tempo de terminar. Amanhã você faz um ano e um mês e ainda tenho muitos cacos a recolher. Agora você está na escolinha e o tempo ainda não dá...

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Surpresa

Lendo a última postagem me dei conta do como e quanto 2014 me preparou para chegar em 2016 com Elena nos braços. A vida é rica! E uma criança é gestada muito tempo antes dentro da gente....

Hoje um quebra-cabeça me veio a mente, escrever, pensei. É tempo dos desejos brotarem livremente.

Não tenho medo de nada
Só tenho medo do nada
(...)
A cada pedra do caminho anarriê, respira e salta!
A noite cai
Água doce vira ouro
Corrente que carrego no pescoço
No peito, um nome de moço.....

Corpo se curando de 2015.