quinta-feira, 30 de junho de 2011

vez em quando longe, eu me sentia longe de mim

Eu amo o Gilberto Gil, não o Ministro, o músico. Nesse blog vocês não vão ler sobre política partidária. Já me bastam as outras horas do meu dia, as quais tenho que falar, escrever e pensar sobre o "poder" ou, mais especificamente, como o sujeito é afetado pelo poder em suas mais variadas formas..... Enfim. Eu tenho isso de não conseguir fazer nada que não seja por amor e eu amo o meu trabalho. Mas aqui é outra viagem: eu escrevo brincando com a pontuação, escrevo em maiúscula, em minúscula; eu expresso o que eu quiser, seja ficção, seja realidade. Aqui eu me permito me perder, para depois me achar. Aqui eu escrevo para me achar.

Voltando ao Gil, minha mãe está lá na sala assistindo a um documentário, "Tempo Rei", sobre ele, lindo, recheado das canções mais lindas. E hoje ela me fala com a maior naturalidade sobre Strauss, quase morri de admiração, ela sempre me surpreende. Eu gosto de Stravinsky.... O Gil.... ouvi o trecho: "lá em Londres, vez em quando me sentia longe daqui/ vez em quando, quando me sentia longe, dava por mim". Essa coisa de estar longe.

Dizem os sábios que a tartaruga carrega consigo sua casa, o seu casco. Eu gosto dessa metáfora. Estar longe de onde se quer estar, tanto fisica quanto emocionalmente, não causa tanta dor quando se está "em casa", quando se está dentro de si, dentro do seu casco. Sinto que é essa "casa" que sustenta suas outras escolhas, porque nem sempre estamos onde queremos estar. Muitas vezes temos que escolher algo para chegar a um outro algo, talvez mais próximo do que se quer. São tantos pratos a equilibrar nessa vida, outros a guardar com carinho, outros a quebrar. O Gil estava em Londres, exilado, puxava os cabelos nervoso, querendo ouvir Celi Campelo para não cair naquela fossa. Aposto que o que ele queria mesmo era estar na Bahia, no Brasil, poder cantar sem mordaça, mas não dava.

Terça-feira conversávamos sobre isso. Foram necessários muitas palavras e muitos autores para tentar fundamentar isso da "casa", não concluímos. No meu entender, tentávamos fundamentar a ideia da "casa", do "lugar" que te dá "força" ou "sustentação". Ele te possibilita viver em um mundo hegemônico, que coexiste com tantos outros mais prazerosos ou mais afetos. Mas ninguém escapa do "mundão", grosso modo.

Mas o que eu sinto, e ai deixo toda a racionalidade de lado, é que quando estou longe é porque me sinto longe de mim.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

vale um rascunho?

o tempo vai me dar tempo de dizer aquilo tudo que eu quero te dizer? vai dar tempo? vai dar, tempo?
passa o tempo e eu fico tranquila, estou aqui para o que você precisar.
eu li em um poema:
hermes é o deus que conduz as almas
até seu destino
o deus que tira o sentido das mensagens mortas
e as conduz à vida do entendimento...
alquímico.
você me ensinou o seu amor pela mitologia e eu fiquei fascinada. ensinou também que a vovó te ensinou que todo presente que se preste, deve vir acompanhado de uma cartinha. você sempre teve o dom da escrita e sempre é muito carinhosa e amiga. meus presentes sempre vieram com lindas cartas. sou eternamente grata por tudo, por tanto amor incondicional.
tudo o que está acontecendo hoje vem possibilitando o brotar do compartilhar que antes não existia. assunto difícil para o coração, mas inevitável. queremos tudo resolvido ontem, mas o tempo é exato. sabe, ele falou para ela, eu ouvi, que ao contrário do que dizem, o tempo não passou rápido demais, "foi o suficiente". é, eles são felizes. nós somos felizes.
eu quero mais uma visita àquele restaurante árabe, aliás, eu aprendi a comer kibe cru com você.
aquele meu amigo gosta tanto de você! como é bom saber quanta coisa linda você já plantou na sua vida.
eu tenho um monte de amor para te demonstrar e eu queria ter certeza de que você soubesse, mas eu não quis esperar a versão final, vale o rascunho? fico com a gostosa sensação de que ainda tenho muito a dizer e com muito tempo.

compositor de palavras

"quero escrever movimento puro" C.L.

Escrever um texto-música não é o mesmo que escrever uma música. É compor palavras, mas não como se compõe notas musicais. É como compor os passos, a fim de estabelecer um movimento. Em cada virada tirar um suspiro, se é isso que se quer, do leitor. E, às vezes, o compositor deseja escrever em determinado ritmo. Como no tango, um texto dramático. Como na valsa, um texto que desliza. Como na salsa, um texto ritmado. Como no chorinho, um texto bem elaborado. O compositor de palavras deseja que o leitor sinta o movimento do seu texto e, por isso, meticulosa e intencionalmente, cria.

domingo, 26 de junho de 2011

reflexões de um coração adolescente em um corpo de trinta

É dolorido querer aquilo que não se pode ter, ela pensou. Passava seus dias pensando naquele homem, mas ao mesmo tempo poderia ser um pensamento-passatempo, daqueles que ficavam rondando porque não se tem nada melhor para pensar. E é tão gostoso pensá-lo! Embora um dia acreditasse, hoje seu corpo queria fazê-la duvidar da existência do amor/paixão à primeira vista, pois estava cansado das loucuras do coração que habitava aquele ser. Isso de "paixão à primeira vista" existir, era "bom demais" para uma pessoa com um coração adolescente, louco por aventuras, louco para escapar da rotina. A faceta abundante da vida: duas vidas que fazem um clique. Era possível que isso acontecesse quantas vezes em uma única existência?
Ela me contou que o que ela gostava mesmo era de embarcar numa paixão e viver com aquele coração acelerado, pés nas nuvens, sorrisão na cara. Ela gostava mesmo era de viver no limite da intensidade. Quando uma paixão acabava e a tristeza do fim superada, a vida ficava sem brilho, ela dizia. Ansiava pela próxima história. Para ela o amor ou a paixão (tudo era bem-vindo) eram necessários para dar uma apimentada no dia-a-dia, já que o capitalismo fazia sua parte deixando a vida morna e chata - trabalho, casa, trabalho, casa, happy hour, casa -, valores pequeno-burgueses sendo alimentados enquanto as pessoas estão digladiando no trabalho, em casa e nas relações.
Então, quando ela o viu..... imaginem. O coração acelerou. Mas, então, algo de diferente aconteceu. O corpo falou, "quero um pouco de sossego, estou cansado de viver esses altos e baixos que você me impõe coração e, além disso, essa história está com cheiro de complicada". O caminho do meio poderia ser interessante, "esquece essa história". De repente, pensando no passado, sua vida ressoava em toda e qualquer canção do Roberto Carlos e ela não queria mais isso. Estava com trinta anos e não podia mais se entregar a loucuras desmedidas, afinal, ela já sabia o que queria, o que era bom ou ruim para ela.
Encontrei-a outro dia e ela me disse que sentia estar sendo inútil toda essa tentativa de equilibrar corpo-coração, pois já disse um velho sábio que o coração tem razões que a própria razão desconhece.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

conversando com

passou o tempo e eu lembrei do blog.

lembrei de quando eu estava escrevendo por prazer, sem me preocupar com nada, absolutamente. pior, lembrei de estar muito feliz escrevendo.

lembrei do tombo de abril, lembrei do tombo de.... é possível "tombar" quantas vezes? pode esperar eu levantar? não sei, a vida é cheia de coiotes.

esses momentos de felicidade sem disciplina... ah, como eu adoro.

as regras me sufocam e eu sofro tentando me encaixar nesse mundo. eu tenho dificuldade de aceitar e compreender as regras que vieram antes de mim (no fundo eu não quero aceitá-las, justamente porque as compreendo e não concordo!). eu queria ter opinado (e falo isso sentindo um riso por dentro).

de repente percebi muitos e muitos egos dentro de mim (ué, mas eu já não os tinha superado?). de repente me percebi sozinha. eu quero estar sozinha? quero. dizem que é inadequado assumir isso, mas não tem problema, eu quero assumir.

eu não quero mais ligar para as "adaptações", eu só sei que eu não quero mais um sapato apertado ou uma camisa de força com o rótulo "namorado" que conforta meu ego carente, mas sufoca minha alma.

em um desses "tombos" duvidei da minha escrita. logo a escrita? a única coisa que me garantia alguma liberdade, que não dependia de aprovação de ninguém, algo meu para mim...

ainda bem que eu levantei do tombo. aprendi muitas coisas, como em todos os tombos, mas decidi que em certos momentos eu iria continuar escrevendo como felicidade desregrada, como brincadeira de inventar. eu quero poder criar algo em algum espaço dessa vida.

outro dia me passaram um exercício: não reclamar. nossa, eu sou muito ranzinza. logo pensei que deveria ser culpa de ser capricorniana com ascendente em capricórnio. claro. contei para uma amiga, mas ela discordou e me disse que eu era uma pessoa positiva, pois eu tinha esperança, esperança de que as coisas podem mudar. fiquei confusa. é, eu tenho fé na alegria e nas pessoas. acho que ela estava certa.

meu humor é ácido e eu não gosto do que é politicamente correto. o dia está cinza, está muito frio e eu estou muito feliz de novo, escrevendo.

amando mautner

SANSÃO E DALILA, por Jorge Mautner

Sansão e Dalila
A canção que repercute, dali lá
Escute, vê se entendes meus prantos
Ó Ruth caligut Mendes dos Santos


Flechas como os pigmeus
Feitas de segredos meus
Para corações ateus
E para os crentes do divino Deus


Flechas saem do meu coração
Não sei pra onde elas vão
Só sei que às vezes elas vem
Bater em alguém sem coração


Depende só da ocasião
Umas flechas que só vem
Outras flechas que só vão
O porque disso aí
Justamente não sei não
Juro que... não!


Elas vem envenenadas
De coisas apaixonadas
Que o bruxo do amor que eu sou
Com carinho preparou


Outro dia numa oração
Flecharam a cruz da emoção
No altar cheio de luz
De Nossa Senhora da Conceição


Um dia numa ocasião
Mil flechas em profusão
Atingiram um espelho
Aí se deu a confusão


Me apaixonei só por mim mesmo
Num egoísmo muito vesgo
(num egoísmo tão a esmo)
Mas agora não
Sei bem o que é essa boba ilusão


Outra vez num quarto escuro
Voaram setas pro futuro
Furando aquele longo muro
Que aprisiona a solidão


Flechas que saíram em fila
Num filme que pra ver eu fiz fila
Do coração de Dalila pro coração de Sansão