domingo, 26 de junho de 2011

reflexões de um coração adolescente em um corpo de trinta

É dolorido querer aquilo que não se pode ter, ela pensou. Passava seus dias pensando naquele homem, mas ao mesmo tempo poderia ser um pensamento-passatempo, daqueles que ficavam rondando porque não se tem nada melhor para pensar. E é tão gostoso pensá-lo! Embora um dia acreditasse, hoje seu corpo queria fazê-la duvidar da existência do amor/paixão à primeira vista, pois estava cansado das loucuras do coração que habitava aquele ser. Isso de "paixão à primeira vista" existir, era "bom demais" para uma pessoa com um coração adolescente, louco por aventuras, louco para escapar da rotina. A faceta abundante da vida: duas vidas que fazem um clique. Era possível que isso acontecesse quantas vezes em uma única existência?
Ela me contou que o que ela gostava mesmo era de embarcar numa paixão e viver com aquele coração acelerado, pés nas nuvens, sorrisão na cara. Ela gostava mesmo era de viver no limite da intensidade. Quando uma paixão acabava e a tristeza do fim superada, a vida ficava sem brilho, ela dizia. Ansiava pela próxima história. Para ela o amor ou a paixão (tudo era bem-vindo) eram necessários para dar uma apimentada no dia-a-dia, já que o capitalismo fazia sua parte deixando a vida morna e chata - trabalho, casa, trabalho, casa, happy hour, casa -, valores pequeno-burgueses sendo alimentados enquanto as pessoas estão digladiando no trabalho, em casa e nas relações.
Então, quando ela o viu..... imaginem. O coração acelerou. Mas, então, algo de diferente aconteceu. O corpo falou, "quero um pouco de sossego, estou cansado de viver esses altos e baixos que você me impõe coração e, além disso, essa história está com cheiro de complicada". O caminho do meio poderia ser interessante, "esquece essa história". De repente, pensando no passado, sua vida ressoava em toda e qualquer canção do Roberto Carlos e ela não queria mais isso. Estava com trinta anos e não podia mais se entregar a loucuras desmedidas, afinal, ela já sabia o que queria, o que era bom ou ruim para ela.
Encontrei-a outro dia e ela me disse que sentia estar sendo inútil toda essa tentativa de equilibrar corpo-coração, pois já disse um velho sábio que o coração tem razões que a própria razão desconhece.

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