segunda-feira, 8 de maio de 2017

contar a nossa história

A pediatra da Elena me pediu para escrever um relato sobre minha participação no grupo de pós-parto... Sentei e com minhas entranhas fiz. Tenho muito mais a contar, espero aos poucos conseguir. Tia Malu chamava a Vó Luiza de Sherazade, minha mãe sempre nos contou histórias e nos incentiva a escrever. E é assim que quero honrar o dia das mães esse ano, escrevendo, esse exercício de liberdade! Compartilho aqui:


Meu nome é Adriana e sou mãe da Elena que hoje tem 1 ano e 7 meses. Nós somos de São Paulo e, entre idas e vindas, fincamos pé em Curitiba em Janeiro de 2016 quando Elena tinha acabado de completar 4 meses. Estávamos desde outubro tentando nos estabelecer por aqui, mas foi um começo de maternidade muito turbulento.
Elena não ganhava peso e nem crescia como o "esperado" - sua curva sempre estava bem abaixo do "normal". Com 2 meses ela passou por um episódio de desnutrição, o que nos levou a passar por muitos médicos e hipóteses diagnósticas. Assim, a certeza inicial de que eu tinha leite e poderia alimentar minha filha foi sendo pouco a pouco destruída, bem como minha confiança interna. Mas sou teimosa e queria amamentar! Eu simplesmente não me conformava e odiava dar o complemento!
Em dezembro/2015, em São Paulo, conheci uma parteira que acertou a pega da Elena e, pela primeira vez, fizemos aquele "click", olho no olho, pronto! Eu senti que poderíamos amamentar em paz. Chegando aqui comecei a buscar uma roda, um apoio, para não perder essa conquista, pois em São Paulo eu tinha toda uma rede e aqui eu não tinha ninguém além do meu marido, Rodrigo e de uma amiga Camille, solteira. Em fevereiro/2016 a Camille me apresentou uma mãe que ela conhecera num evento x e nos colocou em contato via facebook. Ela que me falou da Casa Mãe. Uma bela tarde criei coragem e fui até a Casa Mãe, mas não estava acontecendo nenhuma atividade. Mesmo assim a Niti me recebeu, me acolheu e me falou do grupo de pós parto e da Dra Lu.
Minha vida mudou, um novo horizonte se abriu para mim e me senti acolhida nesta cidade. Minha primeira atitude foi mudar de pediatra e com o incentivo da Dra Lu passei a ir às reuniões. Com as reuniões me fortaleci, eu chorava muito e nunca me senti julgada, fui entendendo que minha filha tinha um biotipo diferente do "normal" e que poderíamos desfrutar da amamentação exclusiva - isso ocorreu quando Elena tinha 6 meses. Dra Lu me ajudou muito nesse processo, pois me incentivava a estar com outras mães e a ver Elena como ela era, saudável e com uma particularidade: um bebê que queria mamar em paz antes de começar a comer. Foi uma liberdade tremenda me livrar das cobranças e poder desfrutar da amamentação sem as neuras da "balança" e da introdução alimentar.
Anexei essa foto na qual Elena tem 7 meses, há 1 ano. Ali está ela: feliz por estar interagindo com outro bebê. Ali estou eu: aliviada por ouvir outra mãe com uma história igual a minha. Hoje consigo entender a importância desse período e de estar em grupo, sinto falta até hoje desses encontros, pois ali a energia circulava como um respiro para enfrentar mais uma semana. Eu me sentia sobrevivendo, culpada por não estar "feliz" e no grupo entendi que "tudo bem" - afinal eu estava passando por muito e estava dando o meu melhor, apesar dos desafios e dificuldades. Até hoje Dra Lu acompanha Elena e de quebra me beneficio do seu olhar e, mais recentemente, comecei a terapia individual com a Fernanda. Considero-as parceiras incríveis, sensíveis, olham mãe e filha como uma relação que deve estar equilibrada, sem fantasias sobre uma maternidade ideal, mas buscando a construção de uma maternidade real e possível.
Attachmen

sábado, 7 de janeiro de 2017

sonhe alto, não pare de sonhar

Hoje à noite ganhei um sonho, enorme, perfeito, delicioso. "Eles estão mandando muito bem", sorri e pensei. Sempre lembro do Salim, meu avô, e ela sabe. Pensei em guardar um pedaço para tomar com café amanhã, mas me permiti devorá-lo como se eu tivesse 12 anos, quando seu Salim nos levava na Monte Rei para comer um escondido, antes do almoço. Baita travessura. Nem me lembro quando me permiti a última travessura, tudo agora é responsabilidade e culpa. Elena não me cobra, mas parece que é o que sobra da maternidade. Há poucos dias, num movimento reverso, me conecto com ela, fico olhando, reparando nela, sem me preocupar com as mil tarefas que envolvem o cuidar, apenas apreciando aquele ser que amo mais do que a mim mesma. Olhei pela janela e respirei profundo, entre uma mordida e outra, que bom estar aqui, que bom estar vivendo esse momento que em breve não será. Eu gosto do cafofo e de poder respirar a brisa do mar. Eu me permiti essas linhas antes do banho, ai que momento de inspiração, alegria. Abri logo o computador para capturá-lo, como se esse ato pudesse me proteger de ficar à deriva, longe de casa. Relembramos uma frase dita por mim: custa caro bancar nossos sonhos. Re-conheci aquela frase como se eu a tivesse dito para mim. Tem sido caro bancar minhas escolhas longe de todo conforto e segurança conhecidos. Mas a janela estava ali, me apresentando também a liberdade enorme trazida por todo esse movimento, toda essa convivência, toda essa aventura. Engraçado como o fora nos leva para dentro se quisermos. Ela me disse para eu escrever sobre tudo isso, mas seria uma comédia ou uma tragédia? Eu gostaria que fosse comédia. Está ficando muito longo e eu só quero voltar a acreditar que posso sonhar alto e não parar de sonhar.