quinta-feira, 28 de junho de 2012

Beleza

Uma canção
A sábia da terra me ensina a ver
Ela fala comigo e me leva ao sol
Ao sol interior
Mãe
Ensina-me a ver o homem dentro do homem
A ver o sol dentro e fora do homem
Usa meu corpo e me faz brilhar
Com a luz das estrela e com o calor do sol
Com a luz da lua e com a força da terra
Leva-me a ser sol
Deixar a razão de lado para ela me contar o que ver adiante

quarta-feira, 27 de junho de 2012

devagar depressa dos tempos


Numa dessas ondas, conheci Brasilia. Foi um impacto sensitivo, espécie de amor à primeira vista.
Na descida daquela rua, arrependi-me de não lembrar de fotografar. Ou não, eram muitas sensações me povoando para pensar em agir. Preferi sentir.
A sensação de estar no meio, envolvida pelo céu e pela terra. Imenso.
Imenso também era o meu desejo de ser aquilo tudo, de nunca mais parar de contemplar aquela beleza imensa. Devagar depressa o céu se movia. Eu conseguia ver os extremos, 180º completo.
Noite. Nada mais me impactará. Não, não. Olha ali, a praça dos três poderes. Imenso de novo. Talvez a simbologia, talvez o tamanho dos prédios, talvez a Beleza. Arquitetura cuidada. O planalto é lindo. Caldeirão de sensações e emoções, me surpreendi.
Devagar depressa, graças ao tempo, aceitei minha profissão. Os símbolos me comovem pelo seu significado profundo, talvez inconsciente. Acho bonito. Orgulho? Não, isso seria rápido demais.
Eu que sou toda mar, encontrei alegrias longe dele, no cerrado. Amor à primeira vista ou paixão, não seriam essas sensações relacionadas mais ao impacto visual-sensitivo e menos pelo conteúdo? Não importa, eu senti e me entreguei.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

acertando por ai

Outro dia pensei sobre o que me impedia de vender tudo e sair errante por ai. Não gostei de pensar em "errante" e lembrei que o meu "tudo" era meu carro de modelo, como dizem, "popular". É, não é muito. Bom, mas é um começo.
Essa coisa de errante para mim não fez sentido. Sinto mais que seria algo como "sair acertando por ai". Sabem aqueles pensamentos que acontecem frutos não sabemos de onde? Eles existem na nossa cabeça por um motivo que não sabemos. Pois é, foi assim o tal do "errante".
Foi um pensamento tão estranho que parei para pensar sobre ele.
Errante me lembrou, erro, andar vagueando, algo não firme ou vacilante. Só poderia mesmo ser um típico ditado popular capitalista. Aqueles ditos que formam opinião, criam crenças: Não vai ser feliz não, trabalhe, se mate, vista a camisa!!
Eu quero vestir uma camisa que me caiba e não vejo nada de errante nisso.
Toda escolha gera uma consequência, essa é a verdade mais profunda para mim, por isso o título desse blog se refere à ela. Escolher largar todas as míseras certezas e seguranças e encontrar o mundo não tem nada de vacilante, é tão assertivo quanto escolher ficar. "Acertando". Sair acertando por ai.
Convenci-me.
Mas, o quê, mesmo, ainda me segurava?


quinta-feira, 21 de junho de 2012

you told me to write a love song

Camera Obscura é uma daquelas bandas para lá de românticas que eu não canso de ouvir. Descobri ser romântica outro dia, conversando com a Érika. Engraçado não ter percebido antes. Eu imaginava querer ser o que já sou. Sempre admirei os loucos românticos, sem me dar conta das tantas loucuras que já fiz por amor, sem me dar conta.
Quantas distâncias já percorri, quantas, quantos príncipes viraram sapos. Mesmo nos finais "infelizes", todas são boas histórias que guardo com carinho, um baú cheio de recordações. Não nego algumas marcas tatuadas, mas as honro e exibo com alegria. Livre de ressentimentos ou arrependimentos ou saudades. Afinal, tudo isso me trouxe até aqui!
Essa música me faz lembrar dele. Ele era lindo, um francês-australiano (?!) e louco por mim. Eu estava enlouquecida por ele também, aquele homem grande e forte, miragem. De novo, a distância. E eu desisti, queria ao vivo, nada dessas coisas antiquadas de internet. Para mim é antiquado. Contato físico é moderno, sim. Olho no olho é muito moderno, compromisso é moderno, envolvimento é mais moderno ainda. Quem namorava sem tocar? Meus avós e olhe lá. A naturalidade de ter uma amante poderia funcionar em uma outra época, com certas mulheres, em relações nas quais o compromisso valia apenas para a mulher. Não à toa meu avó se referia ao casamento como prisão. Qual a graça de estar com alguém que não se deseja estar por inteiro?
Hoje em dia é muito mais fácil, tudo pode ser dito, sentido e vivido, a moralidade é flexível para quem desejar. Concretizar a fantasia, meu bem.
Ele disse, escreve a nossa história. Eu disse que não tinha história para escrever, esperaria ele chegar, em novembro.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

ausência

"Os gatos são os seres mais lindos, inteligentes e independentes do mundo. Essa é a razão por que os homens tem tanta dificuldade de se relacionar com eles e os perseguem indiscriminadamente desde o início dos tempos.” Nise da Silveira

Pensando ainda naquela coisa do afeto. Nise era a senhora dos afetos.
Eu recebi uma mensagem de uma pessoa muito especial reclamando minha ausência. Uma não, várias, de diferentes destinatários. Eu estava muito ausente? Bom, desculpa, eu não percebi. Desculpa?
A questão não era apenas não ter percebido, mas espantar-me ao perceber. Eu nem percebi que estava ausente e tampouco percebi que estava adorando estar ausente. Eu sempre presente, agora ausente.
O direito de estar ausente talvez não seja um direito aos olhos de alguns. Eu penso que sim. Cativamos as pessoas, mas como conciliar nosso tempo com o tempo do outro?
Essa constatação provocou uma sessão nostalgia profunda, pensei em tantos amigos, alguns já fui mais próxima e agora não sou mais, pensei também naqueles que representavam uma época. Tantas épocas que já não são mais. Em cada fase alguns que se aproximam, em cada fase um gosto que se potencializa, em cada fase deixamos algo partir. Não seria o deixar ir mais sábio do que a neura da presença vazia?
Pobres dos gatos, incompreendidos. O gato não implora por afeto.
A loucura é um rótulo para pobremente explicar o que não se compreende. Reclamar a ausência de alguém é como querer rotular algo de loucura. A ausência também é incompreendida. Eu, pelo menos, nunca ouvi alguém reclamar de alguém que está presente demais.
Pensar a ausência me fez lembrar de outra palavra: liberdade. Liberdade é outra palavra de Nise. Eu prezo muito a liberdade, embora sinta que em alguns momentos consigo muito mais concebê-la ao outro do que a mim mesma. "A boa pagadora que não sabe cobrar". Aceitar o querer estar ausente e o que isso provoca naqueles com os quais me relaciono, sem me defender, re-agindo, é um exercício de liberdade. Talvez saia meio torto, como todo exercício em seu início, mas um exercício.
Lembrei-me, também, da minha mais recente batalha, travada por causa da escrita. Ignorar as regras gramaticais para tentar uma outra expressão, ou tentar criar um estilo, não seria um exercício de liberdade também? Porque todos devem escrever da mesma forma? É, vai lá e calça aquele sapato que não te serve.
Liberdade para ousar criar alguma coisa, cura, mas não ajuíza. Juízo eu não quero, obrigada. Gente ajuizada demais é chata.



domingo, 10 de junho de 2012

Buenos Aires: ilusões e outras nem tanto assim

O Sol raiou, depois do coiote. O Jardim Botânico me brindou com lindas plantas e saxofone. Eu, seguindo aquela trilha sonora, encontrei uma fonte e o pote de ouro. Fiz uma pausa, apreciei, fotografei com a máquina e com a alma. Perfeito cenário.
Caminhei.
Estremeci com Eva Perón, identifiquei-me felina e femininamente. Chorei por dentro, pois apesar das devidas ressalvas que o populismo pede à minha compreensão sobre o ato de governar, meu coração identificou a história de fibra, de sonhos por uma sociedade mais justa, sonhos de justiça social, história de sofrimento e, também, de intolerância humana.
Caminhando.
Percebi que aquela comparação que fizeram entre Buenos Aires e São Paulo, era improvável. Ou impossível. Ilusão de quem analisa do raso? De um lado o tamanho incomparável e, de outro, a qualidade de vida. As árvores na paulicéia lutam para existir, lá saltam com seus cento e poucos anos aos olhos do atento. Abuelos e abuelas, protetores com seus portais no meio da cidade.
Flores no caminho, doçura para os sentidos. O Rosedal.
Fotografei.
As pessoas de mais de setenta anos fazendo pic-nic, dançando tango, ensinando tango, pa-que-ran-do.
Jogando.
Dancei a dança da solidão, não sei se com graça e leveza, mas dancei. Cantei-a, em alto e em bom som, ouvi sorrindo. Mergulhar, mas subir antes de se afogar, dessa vez eu realmente gostaria de não me esquecer mais disso. Sorriu-me a solidão com seus dentes de chumbo, mas encontrei a fonte de água pura que não me deixou sentir amargura. Amoleci no clichê mesmo, fazer-o-quê...
E o mundo é a minha casa e isso é muito conforto. Fui recebida por uma amiga querida que me acolheu com os maiores braços do mundo. A generosidade indescritível que abraça, a disposição para o encontro e para a troca. Encontrar esse amor gratuito é felicidade pura e simples, nem se eu imaginasse seria tão bom. Agradeço de coração escancarado.
No domingo, para a despedida, segui outra trilha sonora e encontrei as canções que gostaria de ouvir. Estava na rua, em San Telmo, mas era o quintal de casa. Assisti à três apresentações aqui e ali e a minha criança, lambuzada, comendo sua maçã do amor em um parque de diversões, me agradeceu.
Sensações de uma cidade, pensei na minha, comparei. Sempre comparo. Seria muito querer tanta alegria para São Paulo?
Derrubo a caneta e vou para o Ibirapuera, lá eu sempre encontro.






sábado, 9 de junho de 2012

Esquenta, Buenos Aires - Borges

O coiote de Borges. Jorge Luis Borges. O tempo não lhe alcança, andarilho solitário. O meu coiote. Ele aparece nas horas mais inesperadas, derruba minhas certezas e me pede para levantar, sorrindo. Ele não me dá escolha. Sombra, de novo. Tudo ficou tão escuro! Estava difícil entender suas armadilhas. Entender? Não, a chave é aceitar. Ele colocou minhas entranhas em movimento. Nosso coiote, o meu e o do Borges, é o nosso espelho. Eu e o Borges andamos solitários, dispostos sempre a reencontrar nosso coiote.

dia dos desnamorados

Desconfiar de um cara amoroso e se abrir para um cara violento. Sensor desligado? Constatar o que é óbvio: ligar o sensor para o afeto........
De repente sentir o peito quente, transbordando de felicidade por sentir a vida de novo ali. O sorriso fácil, de novo, a gargalhada esquentando a barriga, de novo. Enamorada pela vida, de novo.