sexta-feira, 15 de junho de 2012

ausência

"Os gatos são os seres mais lindos, inteligentes e independentes do mundo. Essa é a razão por que os homens tem tanta dificuldade de se relacionar com eles e os perseguem indiscriminadamente desde o início dos tempos.” Nise da Silveira

Pensando ainda naquela coisa do afeto. Nise era a senhora dos afetos.
Eu recebi uma mensagem de uma pessoa muito especial reclamando minha ausência. Uma não, várias, de diferentes destinatários. Eu estava muito ausente? Bom, desculpa, eu não percebi. Desculpa?
A questão não era apenas não ter percebido, mas espantar-me ao perceber. Eu nem percebi que estava ausente e tampouco percebi que estava adorando estar ausente. Eu sempre presente, agora ausente.
O direito de estar ausente talvez não seja um direito aos olhos de alguns. Eu penso que sim. Cativamos as pessoas, mas como conciliar nosso tempo com o tempo do outro?
Essa constatação provocou uma sessão nostalgia profunda, pensei em tantos amigos, alguns já fui mais próxima e agora não sou mais, pensei também naqueles que representavam uma época. Tantas épocas que já não são mais. Em cada fase alguns que se aproximam, em cada fase um gosto que se potencializa, em cada fase deixamos algo partir. Não seria o deixar ir mais sábio do que a neura da presença vazia?
Pobres dos gatos, incompreendidos. O gato não implora por afeto.
A loucura é um rótulo para pobremente explicar o que não se compreende. Reclamar a ausência de alguém é como querer rotular algo de loucura. A ausência também é incompreendida. Eu, pelo menos, nunca ouvi alguém reclamar de alguém que está presente demais.
Pensar a ausência me fez lembrar de outra palavra: liberdade. Liberdade é outra palavra de Nise. Eu prezo muito a liberdade, embora sinta que em alguns momentos consigo muito mais concebê-la ao outro do que a mim mesma. "A boa pagadora que não sabe cobrar". Aceitar o querer estar ausente e o que isso provoca naqueles com os quais me relaciono, sem me defender, re-agindo, é um exercício de liberdade. Talvez saia meio torto, como todo exercício em seu início, mas um exercício.
Lembrei-me, também, da minha mais recente batalha, travada por causa da escrita. Ignorar as regras gramaticais para tentar uma outra expressão, ou tentar criar um estilo, não seria um exercício de liberdade também? Porque todos devem escrever da mesma forma? É, vai lá e calça aquele sapato que não te serve.
Liberdade para ousar criar alguma coisa, cura, mas não ajuíza. Juízo eu não quero, obrigada. Gente ajuizada demais é chata.



Um comentário:

Taissa MPB disse...

isso tudo me lembrou o sapato apertado 36 do Raulzito
=)