domingo, 25 de dezembro de 2011

poema de natal

chegou com seus grandes olhos
cor de jabuticaba
fala mansa ganhou espaço
adora um incêndio, um fósforo e uma traquinagem
em casa e nos corações
por onde passa leva graça
coloco o O no lugar do L porque acho engraçado
lá na Itália a mama se inspirou
vai ver foi por isso
que o palestra no coração dele ficou.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

é fácil explicar

"have I ever told you?
how good it feels to hold you?
it is easy to explain....."

no auge dos seus oitenta e tralalá meu tio me deixou um presente de natal. eu liguei para agradecer e desejar boas festas. sempre doce e brincalhão, ele me disse: minha lindinha, que você encontre um fidanzato ano que vem. é namorado bella, namorado em italiano.

claro, tio, claro.
simples? me pareceu tão fácil.

I don't want the world, I only want what I deserve

o verão chegou e eu realmente me encontro aqui. parece que fiquei uns quatro dias para entender que o verão havia chegado, quatro dias para mudar de estação. mudou de estação, primavera-verão, am-fm?, eu fora-eu dentro-eu fora-eu dentro de mim, eu ali-eu aqui. sinto-me como uma jibóia digerindo o mundo, digerindo o mundo lentamente digerindo. comparações com a mesma época, em 2010, não faltam hoje na minha cabeça. muita coisa mudou, muita. eu resolvo sentar e escrever para conseguir trabalhar. escrever sobre gratidão. trabalhar está bonito também, cada dia uma ideia, devagar, mas indo. está tudo indo, o ano acabando e eu só gratidão, nem uma paixão na qual eu pudesse me perder, por ninguém, não, são muitas outras coisas, são muitas outras alegrias, colaborações vindas de tantas múltiplas formas. ficam abraços, amigos, amigas, amor e carinho. eu espero muitas realizações e conclusões em 2012, aventuras, encontros, desencontros, recomeços. eu espero aceitar ainda mais os ciclos da vida, nessa natureza fluida, líquida. eu espero bons ventos de completude desta vida incrível que gira ao meu entorno, como a linda renata me desejou e eu aceitei. espero deixar ir quem tiver que sair da minha vida, como helena compartilhou.
eu celebro você verão, que esse ano tem cheiro e brisa da bahia.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Você não passa de uma mulher (ah, mulher)

I
Minha avó, neta de italianos e franceses, filha de italianos, foi chapeleira. Ela ama costurar e tenho minhas dúvidas se ela não acabou casando porque era isso que as mulheres faziam. Muito bela e vistosa, sempre foi muito cortejada pelos rapazes, mas acabou casando-se com o meu avó, o rapaz pobre que foi, voluntariamente, para a II Guerra Mundial. Ela escolheu o amor, abdicou da sua vida em nome da casa, dos filhos e do marido. Ficou viúva com 81 anos. Um dia a madame francesa, sua patroa, conversando com uma amiga disse: "o homem dá o sobrenome, o amigo o amor", ela ouviu, mas achou um absurdo.
Hoje ela paquerou um médico no elevador. Eu disse, "paquerando, vó?". E ela: "claro, porque não?". Pela primeira vez eu reparei que ela sempre me chama de Adriana e é tão doce que não me assusta. Eu insisti para ela um assunto e ela me disse, firme, na lucidez dos seus 87 anos: "Adriana, eu vou ficar". Emudeci pensando, caramba - c a r a m b a - "é muita personalidade". Encheu o olhos azuis piscina de mais água, o rosto corou, quando a tia entrou no quarto. Respirou aliviada, mais uma etapa. Voltando para casa me contou uma porção de suas histórias, enquanto reparava nas ruas enfeitadas para o Natal. Mostrei a árvore e gostei da felicidade que ela causou na minha Noninha. Logo eu, que acho pouco criativo tanto esse Natal europeizado quanto a árvore. Vem almoçar domingo que a vó faz bife à milanesa. Sobe hoje e toma um café com a vó? Estou cansada, vó. Você vai sair ainda hoje? Vou sim, Luizinha. Então vai, toma uma banho, descansa e vai.

II
Minha outra avó, não se sabe ao certo, era um mix de português com índio com italiano. A sua mãe não pode criar os filhos, então os distribuiu para famílias próximas, para que eles não perdessem o contato. Minha avó gostava muito da família que a adotou. Rita ficou viúva cedo, com 52, e faleceu com 79, sem me dar tempo de perguntar tantos detalhes, os quais apenas me dei conta que faltavam quando ela não estava mais por perto. História que deixou suas lacunas, como a vida, pois não se pode entender tudo. Era uma mulher livre e cheia de energia, adorava o amor e o sexo e não tinha nenhum pudor. Falava sobre isso com a maior naturalidade do mundo. Adorava sua cervejinha com salaminho, apesar da pressão alta. Sempre foi cortejada e namorou até seus últimos dias escondido dos filhos, filhas, netos e netas, claro, pois todo esse pessoal dando opinião sobre sua vida é, definitivamente, a última coisa que ela queria. Trabalhou de telefonista na mocidade e adorava ir aos bailes. De todos os pretendentes casou-se com meu avó que levou-a para morar na fazenda, abdicando de sua profissão para viver uma vida à serviço: 12 filhos (5 filhas, 4 filhos, 3 morreram), cozinhar para um batalhão, fazer partos nas redondezas (sim, ela ainda era parteira)... Uma vida muito diferente da vida na cidade.

III
2011. Almoçando, comecei a conversar com a Maria e o que ela me contou da sua vida me remeteu para o ano de 1880, entretanto, curiosamente, ela relatava 30 anos atrás, no Piauí. Ser mulher, então, é uma tarefa. Não sei se árdua, mas uma tarefa. Não se pode ousar ficar parada, estagnada. Carregamos conosco a tarefa de abrir caminhos para as próximas gerações, romper conceitos, girar entre dar a cara à tapa-encolher-expandir-dar a cara à tapa-encolher-expandir, escolher e sofrer, escolher e ser recompensada, muitas vezes aceitar. Aceitar e não fazer nada, também uma outra tarefa. Eu ouço as histórias, minhas avós, Marias e penso na mulher que eu sou e qual eu posso ser. Eu lhe entendo, menina, buscando o carinho de um modo qualquer... Carinho queremos e, muitas vezes, o aceitamos de um modo qualquer, mas qual é o modo não-qualquer? Eu experimento e observo, aprendo. Olha a moça inteligente, que tem no batente o trabalho mental, QI elevado e pós-graduada, psicanalizada, intelectual. Vive à procura de um mito, pois não se adapta a um tipo qualquer e apesar do estudo, ela não passa de uma mulher..... ah, mulher.