segunda-feira, 4 de julho de 2011

força



"pelas plantas dos pés subia um estremecimento de medo, o sussurro de que a terra poderia aprofundar-se. E de dentro erguiam-se certas borboletas batendo asas por todo o corpo". C.L.

Essa é uma das imagens mais fortes dos últimos tempos para mim. E força ganhou todo um novo entendimento após um círculo de mulheres, no qual brincamos com nossos ossos. Essa imagem reflete justamente o que não vemos com facilidade, mas o que nos dá estrutura e força, o que está dentro.

Clarice Lispector já disse que milhares de pessoas não tem coragem de prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida de "sentir-se", e preferem a mediocridade. Sentir o que está dentro de si e que se manifesta como borboletas: medo, raiva, alegria ou tristeza. Poder expressar esse sentir, ser verdadeiro consigo mesmo, ser doce e delicado é, então, que descoberta, ser forte. Mas ainda há a crença de que a força vem de um outro lugar, um lugar duro. A força pode ser mole, feminina.

Tentar separar o que é meu e o que é do outro. Compreender que mesmo nas situações mais ofensivas a sua pessoa, você está ali dentro e vai precisar confiar em você, porque se esperar vir de fora essa confiança, talvez você passe sua vida esperando.

Essas marchas que vêm acontecendo pelo país, pacíficas, as conquistas trazidas pela união de pessoas, serão expressão desse movimento? Conquistar liberdades com força e determinação, mas buscando essa força de um outro lugar. Sinal, talvez, de um outro mundo possível, onde cada vez mais vozes, possivelmente, coexistam?

E para conseguir ser forte, então, nesse novo modelo, é preciso confiar, confiar mesmo quando não se vê. É preciso um passo anterior, arriscar ser ridículo, ser tolo, amar e dar vexame, pedir o telefone do baterista que é amigo do fulano.... é, tem que estar disposto a arriscar aquela certeza, aquela imagem à qual você se agarra e acredita que é você. Arriscar que você também não é perfeito como gostaria de ser, mas você se respeita. Afinal, diria Clarice, (e)terna, "pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver".

Liberdade eu nunca quero te esquecer, para ir escolhendo viver, com meus ossos e minhas borboletas, na minha imperfeição.

ps: foto roubada, carinhosamente, de Mariana Camarote. Afinal, como disse um amigo querido: "que alegria pode a arte (do crime) em nossas vidas?"

8 comentários:

Anônimo disse...

"Before I sink
Into the big sleep
I want to hear
I want to hear
The scream of the butterfly

(I hear a very gentle sound
Very near yet very far
Very soft, yeah, very clear
Come today, come today...)"

Jim

Adri disse...

que lindo. obrigada!

Maita disse...

Adri, adorei isso!

Anônimo disse...

Acho que cada um deveria ter a consciência de que o sucesso é proveniente do maior esforço possível dentro do potencial individual. Esse é o verdadeiro espírito guerreiro!

Beijo

Rafa

Adri disse...

Que ótimo Maita, obrigada! Irmão, concordo ;)
beijos

Renata Rocha disse...

Que linda!
Que sorte minha estar presente nessa sua busca de você.
Obrigada por ajudar a abrir caminho me apalpando quase como tateando o escuro,como que reaprendendo a dar passos.
Coisa que só dá pra fazer presente... é o único jeito... que trás pro colo o que estava escondido, assustado. Foi sentindo meus ossos e tudo que eles me apontam, dupla.
beijos, rê

Malu disse...

Dri querida,

parabéns pela iniciativa. Leve e solto seu texto alimenta a alma. Amei o tema e concordo que a força não tem forma ne teor, mas se for feminina será mais poderosa. Bjs

Katia disse...

Oi Dri querida, mandei um comentário mas acho que desapareceu!!!
Adorei! Reconheço tantas coisas que estou vivendo... confiar, principalmente quando não se vê, arriscar, reconhecer a minha força. Isso é o que sinto agora. Se não der, escolho novamente, daqui a pouco, pois não sou perfeita. Uau! que ótimo!
Que batam asas as borboletas!!!
Um beijo carinhoso
Katia