segunda-feira, 5 de setembro de 2011

presente

Eu achei um dos presentes mais preciosos que recebi, dos eternos jardins: um par de asas e quatro patas peludas de lobo e rápidas. Para voar eu teria que usar os dois e teria que fazer isso no meio da multidão.
E não é que uma mulher assemelha-se muito a um lobo? Robusta, plena, com grande força vital, que dá a vida, que tem consciência do seu território, engenhosa, leal, que gosta de perambular. E quando ela se aproxima da sua natureza instintiva não significa que se desestruturou, agiu como louca ou descontrolada. Significa o oposto, pois a natureza instintiva possui vasta integridade. Implica em delimitar territórios, encontrar nossa matilha, ocupar nosso corpo com segurança e orgulho independentemente dos dons e das limitações desse corpo, falar e agir em defesa própria, estar consciente, alerta, recorrer aos poderes da intuição e do pressentimento inato às mulheres, adequar-se aos próprios ciclos, descobrir aquilo a que pertencemos.
Ela se enfurece diante da injustiça; é à procura dela que saímos de casa, é à procura dela que voltamos. E no meio da multidão experimenta toda a exposição, mesmo do que ainda não está perfeito, do que a auto crítica deseja censurar, costurar, remendar, refazer. A mulher selvagem procura e encontra, num ciclo infinito de caça.
E esse presente era uma caixa de ferramentas guardada no fundo do imenso baú dourado da vida, o presente de poder correr com os lobos.

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